Se
alguma vez este livro, cujo nome provisório já o conhecem e que, vá lá, repitam
comigo, é “Pasteis há muitos, Senhor Ismael”… Não? Não era este? Está bem, mas
por hoje fica este, vier a ser publicado, vou entrar em consenso com o editor
para que a capa tenha badanas. Se há coisa que eu adoro num livro são as
badanas. Numa delas vem a biografia do autor, na outra um pequeno resumo para que
os críticos literários badanistas se pronunciem sobre o livro fazendo um grande
brilharete e deixando os que os leem, (leem?) a pensarem que eles é que são
mesmo os presidentes da junta. E para que é que eu disse que servia a outra
badana, para quê? Ora muito bem, estavam com atenção, é para a biografia sim,
senhoras e sim, senhores. Portanto senhores editores fiquem aí com uma pequena
nota biográfica do escritor. Se não couber na badana, apertem a letra, por
favor.
Nascido em Lisboa,
depressa emigrou para Almada, tinha apenas quatro dias de idade. Não esperou,
portanto, pelos conselhos de sua excelência o Primeiro-Ministro. Em Almada se
fixou até aos 25 anos, tendo transitado para o Seixal, no início dos anos 80 do
século passado, porque o preço da habitação era mais baixo. Hoje diz com
naturalidade ter tripla naturalidade, naturalmente, sendo um alfacinha
almadense que não se “qu(s)eixa” de morar no Seixal. Já passou por 56
primaveras e no verão, se Deus lhe permitir, somará mais uma (isto de fazer
primaveras no verão, só mesmo para os eleitos). É casado, tem uma filha e um
filho, que são maravilhosos e um não menos maravilhoso neto. Quando for grande
quer ser bisavô, vamos lá a ver quantas primaveras demorará. Formou-se em
engenharia e andou pelos computadores até se tornar doméstico, mas sempre com
os impostos em dia. Mesmo que não o quisesse o Gaspar está à espreita e
portanto não tem hipóteses. Gosta de fotografar, como amador, porque de facto
ama a luz e o seu registo. Escreve essencialmente para a gaveta e não na gaveta
porque se o fizesse já teria as mãozinhas todas tortas de tanto escrever. Há
mais de oito anos que começou a escrever em blogues, sempre é mais confortável
do que em gavetas, sendo que o seu antigo blogue, O PreDatado, chegou mesmo a
ter sete leitores por dia. Hoje dedica-se mais a contar histórias no
Constantino Guardador de Vacas, de onde acabou de sair do armário, quer dizer,
da gaveta, para o prelo. Contos do Nosso Tempo será o primeiro livro que tem as
suas palavras impressas. Tentou antes fazê-lo a partir de uma encadernação
caseira, mas a cola usada era de má qualidade, sendo que o livro nunca se
chegou a consumar. A sua biografia foi escrita com uma mão e um braço completamente
ligados devido a um ataque do seu gato Schubert, seu coprotagonista numa série
blogosférica. Tem ainda duas gatas, duas tartarugas e vários peluches, além de
uma bola de futebol e um calendário com uma gaja nua. Nua não, em biquine.
Coitada
da Fernandinha, se lesse o título provisório que acabei de dar ao livro. Ela
que foi a melhor cozinheira de pastéis de bacalhau de Lisboa. Hoje está
reformada com pouco mais de trezentos e sessenta euros por mês mas, mesmo assim,
muito agradecida ao doutor Passos Coelho por ele não lhe roubar o subsídio de férias.
É que, coitadinha, todos os anos tira umas fériazitas, da sua vida rotineira na
Quinta do Conde, onde ainda mora, para passar quinze dias na Cova do Vapor,
onde apenas a troco da estadia, faz uns salgadinhos para o dono de uma
mercearia todo o terreno, que até vende bilhas de gás e fechos éclair, que tem um chalé com terraço e
tudo. Mas olhem que mesmo assim a Fernandinha está gordinha, continua roliça e
coradinha e, se não fosse a Isaura Bate-Sola, que Deus tem, poder levar a mal lá
no Céu e rogar-lhe alguma praga, dir-se-ia que ainda era mulher para romper
meias solas. O Rogério é que deve ficar satisfeito de o saber. Um dia destes
ainda o vamos ver, numa esplanada na Cova do Vapor a escrever a biografia não
autorizada de Fernandinha, a beber uma imperial e a lambuzar-se de pastéis de
bacalhau e rissóis de berbigão. E depois digam cá se ele não e muito melhor a
escrever biografias do que o Constantino.
Também gosto muito de badanas. Não se esqueça de colocar uma foto do autor com um ar muito intelectual!
ResponderEliminarSe eu tivesse um gato que me fizesse isso...*
E com a barba por fazer.
EliminarPedaços de vida e de sonhos.
ResponderEliminarUma leitura leve e agradável e para finalizar uns pastelinhos de bacalhau e uma imperial...ui...até fiquei sem palavras porque a água enche-me a boca toda...
Se gosta de salgadinhos e outros petiscos vá passando por cá.
EliminarAh não... eu cá adorei a biografia do Constantino!
ResponderEliminarO tipo tem destas coisas
EliminarPronto, OK, já conhecia a biografia do escritor (mais ou menos) e até vi fotos do ataque do bichano, embora ainda não saiba o que lhe fizeste, para se virar ao dono... ;)
ResponderEliminarAgora é uma injustiça dizer que o Prezinho tinha 7 leitores por dia: só comentadores eram muitos mais! Antes de o deixares um bocado ao abandono, está claro... :))
Beijocas e as melhoras dos arranhões!
Não fiz nada, Teté. Ele é que se assustou e como é stressado atacou-me sem saber sequer que era eu que ali estava. Já está desculpado.
EliminarGostei desta biografia, como estou habituada a lê-las simples e sem imaginação esta agradou-me em especial, sobretudo porque ambos contamos primaveras no verão e já nem comparo com as suas nacionalidades, porque aí batia-o aos pontos, sem contudo fazer a vontade ao nosso primeiro. Já ensaei algumas fugas, mas não há quem me convença a deixar de gostar de pastelinhos de bacalhau e lá volto eu de novo à base.
ResponderEliminarBom fim de semana.
Quando estou lá fora, em passeio ou em trabalho, apesar de eu ser um gourmet, acho eu, há sempre uma nostalgia da comida cá do nosso burgo.
EliminarEna pá... já andamos há oito anos nisto!!
ResponderEliminarÉ obra! E gostei de ler a badana com a tua biografia(autorizada)...
Ahhh... e o prazer da mesa ninguém nos tira!!
Ainda um dia fazemos uma daquelas almoçaradas à antiga portuguesa!