- That's one small step for a man, one
giant leap for mankind.
- O que é que ele disse filho? – perguntou-me a minha avó Emília.
Eu ainda não dominava a língua inglesa para fazer uma tradução
exata do que Neil Armstrong acabava de dizer e além disso as condições sonoras
da transmissão não eram as melhores. A minha Schaub Lorenz não raro necessitava
de umas palmadas para que as válvulas estabilizassem e aquele scroll vertical
acalmasse. Ainda assim respondi:
- Disse que era um feito muito importante para todo o mundo.
Foi desta maneira que acabei por explicar, em palavras simples, à
minha avó Emília que, nos seus setenta e seis anos de idade se aguentou firme,
ela e eu, a ver a chegada do homem à Lua, o que Armstrong dissera. A minha avó
não sabia ler, nem escrever, mas era de uma inteligência incontestável.
Obviamente em muitos casos, limitada às suas vivências o que não contraria a famosíssima
tese de Ortega y Gasset, mas ainda assim, nem um só momento duvidou de que o
homem tinha chegado à Lua. O que ela afirmava bastas vezes, é que receava o que
poderia acontecer por eles andarem a “mexer” lá em cima.
Mas ao contrário da da minha avó, era voz corrente a de que o homem
não tinha ido à Lua e que aquilo era tudo inventado pelos americanos. Não me
admiravam essas afirmações. Estávamos no terceiro quartel do século XX, um
século que viu nascer o avião a jato, a televisão, o computador. Era muita
coisa num século só. E de que daí nascessem teorias da conspiração, ficções
para vender livros e documentários não me espantou nada. O pior não era esse
tempo. O pior é hoje. O pior é que ainda há quem afirme que a Terra é plana. E têm
seguidores. Um dia destes ainda os vamos ver em manifestações para exterminar
as cegonhas com o fim de controlar a demografia. Ai não tarda, não.