sexta-feira, 29 de junho de 2012

155. Ismael (68) - Uma persona non grata



Não sei se Isaurinha Bate-Sola matou ou não Isabella Vicentini. Ainda não me decidi se a hei de crucificar em detrimento de outras pessoas que já me passaram pela mente como presumíveis assassinos. Para dizer a verdade, Isaurinha Bate-Sola não me é uma persona mui grata. Em primeiro lugar, como todos sabem, por ter vivido com o meu amigo Ismael Gusmán, depois de este ter ficado viúvo e, sem mais nem menos, bem calçada e bem vestida, se bem que bem calçada não precisava que tivesse sido por obra do galego, pois lá em casa o senhor Peres, o mais famoso sapateiro da Quinta do Conde, tratava ele próprio disso, mas bem vestida sim, não lhe faltava nada, ia uma vez por semana ao coiffeur e à manicure, lavava, cortava ou fazia mises, era como ela quisesse, quis o cabelo à garçonne então cortou-o curto, quis vírgulas, então fê-las, quis permanentes para ficar parecida com a Grace Kelly, ficou. A tudo o meu amigo galelo dizia sim, e ela, coisa rara, tratava até das unhas dos pés, viram-nos sair bastas vezes do Cineteatro Quinta-Condense e dizem, as alcoviteiras das vizinhas, que numa noite ventosa de Outubro, chegou de táxi com Ismael Gusmán, de vestido preto e sapatos de verniz e ostentando um bonito e caríssimo casaco de peles, sendo que essas mesmas más línguas disseram que o «senhor espanhol, estabelecido em Lisboa e com certeza bem na vida», a tinha levado ao Casino Estoril. Pois se nada lhe faltava, de um dia para o outro pôr os cornos a «tão boa pessoa», diz-se na vizinhança e eu corroboro, pois não deve haver no mundo uma pérola de pessoa como era o meu amigo Ismael, ainda por cima um benfiquista dos quatro costados, não pugnava nada pela sua, dela, reputação. Mas não foi só por causa do que ela fez ao meu amigo Ismael que eu não topo, quero dizer não gramo, aliás não curto, ou por outras palavras, deixando para trás o reles calão empregado nos sinónimos, não vou muito à bola com a Isaurinha Bate-Sola. Foi, principalmente, porque ela era uma verdadeira leviana. Porque é que ela, se tinha deixado o Ismael porque, confessou até à Francisca, estava perdida de amores pelo Sebastião e estar em casa, mais propriamente na cama com um homem em cima, neste caso o Ismael e estar a pensar noutro, neste caso o Sebastião, não era do seu feitio e que, portanto, o melhor era acabar de uma vez por todas com o galego, retomo a pergunta, porque é que ela, se era assim como dizia, enquanto catrapiscava o Sebastião, se deitava com o filho do Esteves? Pois é uma pergunta a que não vou responder, se não tinha de perguntar e responder também porque é que ela se deitava ainda com o Adalberto da pastelaria, com o Quim da mula, com o Ferro-Velho e com, aqui já não garanto pois a vox populi é lixada, com o genro do Tio Manel da retrosaria que, por acaso é muito bem casado com a filha deste, uma belíssima costureira da Rua Direita. Pois, como disse no princípio, não gosto nada desta Isaura Peres e se o seu percurso continuar a dar-me insónias, sem saber como rematar o livro, uma vez que já tenho mais de cento oitenta páginas escritas e quase prontas para edição, ponho a naifa na mão da Isaurinha, espeto no peito da Isabella, uma duas ou três facadas fatais, pois a quarta já sabemos quem a deu e arrumo logo a questão. Porque eu ainda tenho mais um motivo para dar como assassina Isaurinha Bate-Sola. E esse motivo que se chama Sebastião, também se chama ciúme. Tinha algum cabimento eu ter, ao mesmo tempo que arranjo namoradas atrás de namoradas para Sebastião, posto mão com mão, mão com coxa, lábios com lábios e outras coisas que aqui não se devem descrever, o Sebastião com a Isabella? Eu já sabia que ia causar uma carga de ciúmes à Isaurinha e que isso podia dar para o torto. Vamos lá a ver, a menos que entretanto me suja uma ideia melhor, fica aqui a Isaurinha de reserva para matar a morta. Mas isto não acabou ainda. Garanto-vos.


9 comentários:

  1. Se já sabemos quem deu a 4ª facada e se nessa altura a morta já o estava... é melhor desvendar primeiro quem foi ou foram os profanadores seguintes...

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  2. Pena que não acompanhe este Thriller a par e passo, mas garanto-te que quando o livro sair, vai ser o meu livro de cabeceira durante uns tempos :)
    A tua imaginação não tem fim!
    beijos
    cvb

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  3. Pobre da 'bate sola'vai levar a fama se é que já não tem tantas!! e o autor se vale dessa implicância , dando nome aos bois (ou é a vaca)? rs
    francamente!os golpes que Isaurinha atira só atinge o coração e o bolso dos Ismaeís distraídos_ sou contra lançar nela a culpa desse imbróglio...estou a gostar das palavrinhas dificeís que o autor resolve sempre empregar .. rs
    abraços abraços Vitor
    bom fim de semana

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  4. Olá, Constantino!

    Dá para perceber que não está nada fácil encontrar um fim condizente para esta longa e intrincada história, mesmo quando o autor é talentoso.E eu, confesso, que também não saberia como ajudar, mesmo que quisesse e pudesse. Que tal um fim moralista, em nome da amizade por esse Galego Gusman, e condenar essa Isaurinha de vez...?

    Abraço amigo; bom fim de semana.

    Vitor

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  5. Não tenho seguido esta história. Vou ficar atento!

    Abraço

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  6. Uuuuuiiia.. passei um tempo por aqui. Olhe lá o que você garante viu moço?! rsrs

    Abraços!

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  7. Hoje ficamos com a Isaurinha bate Solas... a sêco!!
    Nem um aperitivozinho!!
    Isso não se faz...

    Um abração

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  8. Estive a actualizar os episódios desta "longa-metragem" e neste último ai coitada da Isaurinha bate Solas que agora irá pagar as favas? Ela vai a todos...mas seria incapaz de dar facadas e queres que ela "mate a morta"? Tu vê lá o caldinho que arranjas loll

    Por este andar vou mandar-te a conta de um tinteiro, pode ser?

    Um abração

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  9. Ora a Iasaurinha tinha bastante saída pelo que li, se calahar o seu amigo habitoou-a mal e enfeitou-a em demasia, vai daí ela quis retribuir e enfeitou o seu querido Ismael, caso para dizer que amor com amor se paga ehehehe.
    Eu por mim , não matava fosse quem fosse , porque senão lá se iam estes deliciosos e bem humorados momentos que por aqui se lêem.

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