domingo, 24 de junho de 2012

153. Ismael (66) - Limpeza de balneário


Quis o escritor que desta vez o narrador tomasse o protagonismo e viesse aqui contar para todos vós o que se passou a seguir. Considerou o escritor e com alguma razão que os seus leitores já devem estar cansados de ler esta sequela sem fim à vista e que o melhor, para que descansassem os olhos fosse o narrador a contar. Ora então, cabendo-me a mim fazer esse papel de narrador, prestem atenção ao que vos tenho para dizer. No entanto, se no final do que vos relatar não estiverem de acordo com o que aqui foi dito devem reclamar com o escritor e não comigo porque sou apenas o mensageiro. Oiçam então.

Cansado com a confusão de Ismaeis e com a presença de pessoas que nada tinham a ver com o crime ou com o bom andamento do relato, já há muito que o escritor tinha abandonado qualquer referência ao falecido Günter Freitag , eis se não quando no último episódio o voltou a fazer, mas jurando que não o repete e à velhinha que nos alpes possuía uma medalha em forma de coração com uma nossa senhora e um número inscrito e que já nem o próprio escritor se lembrava de o ter feito. Também o senhor Ismael da Ervanária que ainda era qualquer coisa à moça da esplanada e que gosta, não só de sandes de fiambre com manteiga, mas também de finais esquisitos para as novelas, só foi referido uma vez, tendo em compensação sido chamado o senhor Ismael da Farmácia, por mor de um filho que gostava de vir para Lisboa, ainda não se sabe bem, fazer o quê, mas que era a grande preocupação daqueles pais, o senhor Ismael da Farmácia e a sua esposa, a senhora dona Marcília, entrevada numa cama com enxergão de palha. Já da Micas, secretária de Ismael Sacadura Flores, apenas se ouviu falar dela no dia de Carnaval, não se sabendo se se baldou ou não para a Costa da Caparica com algum brasileiro ou se tem uma vida pacata de dona de casa na Quinta do Conde. Decidiu portanto o escritor e incumbiu-me de vos comunicar que fez uma limpeza de balneário limpando todos estes nomes de episódios futuros. A eles, juntou-lhe ainda Herr Jürgen Grass que cumprida que foi a sua missão junto à Mossad mais nada tinha que fazer aqui, e cortou também Rafaello Vicentini, não o declarando morto mas a quem lhe aconteceu qualquer coisa pela certa. Ora para esta missão de limpeza, que poderia, sem dúvida, ter sido executada pelo escritor, homem humilde, que não gosta de assumir protagonismos e que, por isso mesmo, decidiu designar o inspetor Ismael Sacadura Flores como presidente da comissão liquidatária de nomes da novela “Sete facadas à procura de um autor”, título provisório, para que este pudesse pôr ordem nesta casa, já que polícia é polícia e escritor é escritor, não vamos nós inverter os papéis, ao que aquele acedeu e este sorriu e eu vos narrei.

Ismael Sacadura Flores agora empossado de novos poderes, decidiu por sua vez que o senhor Ismael da Farmácia, a enfermeira feia e o agente da Pide, não obstante a resistência deste e as chatices futuras que o inspetor Sacadura veio a ter, não precisavam constar mais desta história, embora ao senhor Ismael da Farmácia ainda se lhe possa fazer uma ou outra nomeação mormente quando alguém se refira ao seu filho. Mas por causa de uma amizade antiga entre o escritor e o taberneiro Ismael Gusmán, não esteve este muito de acordo com esta ideia do homem da Judiciária e disso incumbiu-me também de vos dizer que este descontentamento adiria da possibilidade dos proventos do galego naturalmente diminuírem, já que menos três frequentadores da tasca lhe dariam algum arrombo no orçamento porque se tinha que ter em conta que a enfermeira feia comia que nem uma lontra, o senhor Ismael da Farmácia bebia mais do que uma esponja natural e o agente da Pide, porque passava lá os dias inteiros sempre ia consumindo a suas cervejinhas. O escritor que não tinha nenhuma intenção de discutir com o polícia, nem tampouco ou, melhor dizendo, ainda menos, de prejudicar o seu amigo galego, decidiu manter a enfermeira feia, que provavelmente fará também um depoimento à margem do conhecimento de Ismael Flores e o agente da Pide, tendo então eliminado de episódios futuros Ismael da Farmácia. Posto isto pediu à comissária Xana que pusesse as algemas a Ishmail Baruch que, se bem que não tivesse matado Isabella Vicentini, tinha dado a quarta facada no peito da malograda corista, nesse momento já cadáver.

Temos agora que aqui fazer um pequeno parêntesis, porque a Deus o que é de Deus e a César o que é de César. Ficaria mal deixar passar em claro a discrição dos leitores deste volumen ao ouvirem o Inspetor referir que Ishmail Baruch pespegou a quarta facada no peito de Isabella, que não balbuciaram uma única palavra sobre o caso do qual já tinham conhecimento. talvez os leitores não quisessem efetivamente que o homem ficasse com gases por se ter sentido ultrapassado. Como todos sabem, esses gases advêm do facto de que quando o inspetor se sente ultrapassado, desatar a comer ensopado de borrego, frango no forno com coentros, bifinhos de cebolada, beber vinho branco de Almeirim com aspirinas, comer passas de uvas, azeitonas pretas, paté de atum, arroz de lingueirão, melão com presunto e café sem açúcar.


8 comentários:

  1. É pá, só para me por ao corrente do numero de facadas que a dita coitada já estava cadáver depois da 3ª pelo que quem deu a 4ª não merece outra pena que não seja a de tentativa de homicídio na pessoa de uma já morta coitada e assim por diante, nas 3 outras facadas que se seguiram que se não foram todas essas três dadas por uma única pessoas mas que três outras pessoas, sendo que cada qual deu a sua facada... irra, isto é mesmo uma confusão. Para facilitar, não podia o narrador, caso tenha autorização do autor, de ao mesmo tempo que opera à limpeza do balneário reduzir o número das ditas facadas limitando estes àquela sequência que converteu a viva, na corista morta?

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  2. Ponto 1- Antes de mais vamos lá acertar o número de facadas já dadas na pobre corista!


    "No chão jazia e esvaía-se em sangue a corista Isabella Vicentina. Estava morta. No peito uma faca. No corpo, três facadas."

    Ora se a Vicentini tinha três facadas no corpo e a faca espetada no peito, quantas facadas são?
    Vai daí, vem o sádico Baruch espetar mais outra e rematar a morta. Para sete facadas quantas facadas faltam?

    Ponto 2 - Já não bastava a confusão aqui armada pelo escritor, ainda vem lançar mais confusão o Rogério, leitor?!

    Desisto!!!

    Bye bye.

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    1. Janita,
      Não desista...

      As facadas foram sete... a sequência delas e quem deve ser incriminado e, depois disso, considerado culpado é competência do Constantino (que pode delegar no narrador)

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    2. OK, Rogério!
      Em atenção ao seu pedido vou tentar resistir, apesar das minhas forças se encontrarem no limite...
      Cá por mim, a troika responsável por esta tentativa de homicídio cerebral massiva, ficava já em prisão preventiva...

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  3. O Baruch só pode ser acusado de profanação de cadáver...
    Mas vá lá que houve uma comidinha rápida no final... que me soube muito e muito bem!

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  4. kkkkkkkkkkkk a história cada dia embaralha mais ! venho lá detrás da história da crioula,da prisão do juiz jubilado, do judeu Isamel Bemqualquercoisa rs e agora nesse balneário que acrescenta pouco e aumenta a confusão com o sr.Rogerio e d.Janita 'protagonizando' sobre a autoria das facadas(deve até entrar nos autos_como testemunhos virtuais) rsrs.
    O que resta é ir bebendo um vinho português, embriagando-me por aqui onde me sinto a salvo de qualquer suspeita.Afinal,um oceano azul nos separa Sr.Constantino rs
    meus abraços e
    Parabéns pelas invencionices que muito me faz rir.

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  5. já entra facadas? ai mê Dês! Logo 4?
    vou mazé fugir daqui antes seja a proxima!
    kis :=)

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  6. O certo é que das sete facadas só se conhece, até ao momento, o autor da quarta. Isto ainda tem pano para mangas...

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