Naquele tempo eu e o meu irmão Leopoldo jogávamos à bola
onde quer que fosse, numa praceta alcatroada da estrada ou numa de terra batida
entre prédios, numa eira de trigo e milho, numa clareira onde quatro pinheiros
ou outras quaisquer quatro árvores cortadas ou em pé, serviam de balizas, no adro
da ermida onde íamos à missa ou no largo do liceu com balizas feitas de malas e
agasalhos, onde só era golo se a bola passasse rasteira, vá lá a meia altura,
pelo meio da baliza, pois, caso contrário seria “altas” ou no “poste”, invisível,
imaginado no prolongamento do monte de pastas e livros. E era por detrás do prédio
dela, pisando ervas e cardos, destruindo arbustos. Naquele tempo em que eu era
um pequeno e esguio avançado-centro e o Leopoldo o guarda-redes, onde os
árbitros somos nós e a voz mais poderosa, aquela que decidia se o jogo ia
continuar ou não, era a do dono da bola, naquele tempo discutia-se se uma bola
foi “altas”, ao “poste” ou golo, na voz alta, estridente e esganiçada de
crianças, onde para o avançado era sempre golo e para o guarda-redes nunca o era,
acontecia chegarem a vias de facto, até que, no fim, pudesse ser erguida a taça.
E ela na janela a ver os miúdos da sua idade a jogarem à bola com, quem sabe,
mais olhos para o avançado-centro do que para o guarda-redes, o médio ou o
defesa, ela que quando acabava o jogo, ou antes, fechava a janela, corria as cortinas
e se fechava em casa com os longos cabelos dos seus doze anos, por vezes
transformados em bonitas tranças, sainha curta e bata branca, muito branca, quando
caminhava para a escola. E o avançado-centro esbaforido e de rosto vermelho de
cansaço que se exibia marcando golos, limpos ou ao “poste”, para a menina de
doze anos, debruçada sobre o parapeito da janela ou que, de banho já tomado, na
sua calça de fazenda vincada e camisa bem engomada, um pullover se era inverno, a esperava às escondidas na rua em frente
à porta da saída da escola e depois se atravessava numa qualquer travessa para
não ser visto e já com ela de costas lhe admirava os longos cabelos negros.
Passam-se os anos, a menina de doze anos casou com o
avançado-centro, há dois filhos e um neto e a menina que fazia tranças no
cabelo hoje usa-os mais curtos, já não são tão negros assim e é uma felicidade
somar mais um ano aos seus doze anos e, viver com a graça de Deus, mais este
vinte e oito de fevereiro, não com doze, nem com treze, nem com catorze mas com
alegria e não vou dizer quantos mais. E o avançado-centro, que agora já não é
esguio o suficiente para correr em cima de cardos e marcar mais um golo ao
Leopoldo, limpo ou ao poste, mas que ainda tem fôlego para cantar as quadras
dos parabéns a você e erguer lá no alto uma taça mas agora de champanhe.
As coisas que a gente se lembra quando se cumpre mais um ano
de vida. Parabéns, amor e que contes muitos que eu vou contando histórias.
Linda homenagem que fazes ao teu Amor de sempre.
ResponderEliminarCom aquela simplicidade a que já nos habituaste, mas tão carinhosa e emotiva!
Parabéns à menina Zézinha do lindo cabelo negro. Que importa se hoje não é tão negro nem tão longo se o Amor que um dia vos unio permanece igual?
Feliz dia de Aniversário e todos os dias da vossa vida.
Ao ex avançado-centro que hoje nos delicía com as suas incríveis e bela histórias, os meus parabéns pela sorte com que a vida o bafejou e, sobretudo, por o saber reconhecer!
Beijinhos a ambos.
Janita
Parabéns à aniversariante e ao contador da história, que está uma delícia!
ResponderEliminarQue lindo post!!
ResponderEliminarE muitos parabéns àquela menina de trancinhas que hoje faz anos ao teu lado! Quanta ternura li e senti aqui, Vítor!
Um abração e um beijo para a tua mulher.
hummm que linda declaraçao de amor.
ResponderEliminar57 anos? jovem ainda e tu tens (ainda) muitas historias para contar, meu jovem amigo
PARABENS à tua senhora
Que deliciosa declaração de amor e recordo-me de outras que também fizeste na tua antiga casa:):)
ResponderEliminarÀ tua menina de trancinhas um enorme abraço de parabéns e que vá tendo paciência para te aturar LOLLL
Beijos a todos e um muito especial ao vosso neto!
E que bem nos conta as histórias, Vítor!Tanta sensibilidade e ternura...
ResponderEliminarParabéns à aniversariante
Abraço
Ah, que história tão bonita e... um pouco auto-biográfica, não?
ResponderEliminarParabéns à tua jove e que cumpram ambos muitos mais anos de vida ao lado um do outro, com saúde e alegria! O amor é lindo! :)
Beijocas para ambos!
Meu amigo
ResponderEliminarEste 'cinquenta e sete' tem estado a acenar-me desde ontem...sabia que era assunto do melhor.
Ai, este avançado-centro, claro que tinha de ser sempre golo, não podia falhar, tinha a linda menina de doze a observar o jogo.
E, para a bela menina, agora com cinquenta e sete, muitos parabéns e muitos anos de vida.
Abraços.
Olinda
:)
ResponderEliminarMuito bonito.
e Parabéns... a ambos :)
Belo texto!
ResponderEliminarQue maneira deliciosa e ternurenta de dar os parabéns ao seu amor!
ResponderEliminarPois que a palavra nunca se lhe esgote na demonstração de sentimentos tão bonitos e recheados de emoção.
Já um pouco atrasada deixo um enorme abraço de parabéns a ambos.
Manu
Estou com os olhos marejados, diante dessa declaração de amor, que agora é mundial (a internet dilatadora de fronteiras), à miúda de tranças negras! Num tempo em que as relações são superficiais, é um privilégio sabermos e acompanharmos sua linda história de amor, meu amigo Vítor, obrigada pela linda partilha!
ResponderEliminarE desejo, do mais profundo do meu coração, que a saúde, a alegria, a felicidade, e a paz, sejam a constante na vida da sua esposa, e de toda a família, que possamos ler e viver esse dia, por muitos anos!
Beijo cheio de carinho para vocês dois, para os filhos e o neto!
;))