O tempo passa e só damos por isso quando olhamos para o espelho e ele nos retribuiu com uns pezinhos de galinha nos cantos dos olhos. O tempo passa e só damos por isso quando olhamos para aquele blaser, que é como quem diz paletó, azul-escuro, que tudo denuncia e vemos ali pregados dois cabelos brancos que, por estranha coincidência, são nossos. O tempo passa e nós só damos por isso quando os garotos no outro lado da rua deixam fugir a bola, no jogo da rabia e nós tentamos dar uma corrida para a devolver e não lhe chegamos a tempo. O tempo passa e nós só damos por isso quando vamos a subir os degraus do autocarro e ouvimos ranger o que primeiro pensamos ser os degraus de um velho machibombo, mas rapidamente nos apercebemos que são as articulações dos nossos joelhos. O tempo passa e nós só damos por isso quando nestes dias frios que se avizinham, tomamos extrema atenção aos cuidados que é preciso ter com os idosos e preparamos as mantinhas, a botija de água quente e verificamos se há lenha suficiente para não deixar morrer a lareira.
Era uma manhã de um sábado frio, embora solarengo, de inverno. Ela saiu de casa braço dado com Constantino. Os passos dela eram curtos, não se podia mexer com a mesma agilidade de uns meses atrás, mas decididos e ela, sem receios, determinada e, sobretudo, muito feliz. Ele levou-a a tomar o pequeno-almoço e depois deixou-a no hospital. Nesse dia ele precisava ir trabalhar, ela teria os seus trabalhos umas horas mais tarde. Juntou-se a ele na mesa do almoço, mas não comeu. Não devia, não podia. Quando se deixaram, ela regressou ao hospital pelo seu próprio pé e ele voltou para o escritório. Constantino olhou para o relógio, estava na hora. Desligou o computador, fechou a pasta de documentos, colocou a máquina fotográfica à tiracolo, fechou as luzes, desceu à garagem, levou o carro, foi ele próprio para o hospital. Ela aparentava uma inusitada calma. Ele aparentava um, mais que justificado, nervoso miudinho. Entraram juntos na sala de partos e enquanto ela trabalhou, ele acarinhou-a. E fotografou.
Ao fim da tarde, quando chegou a hora de os deixar descansar, tão lindos que estavam lado a lado, mãe e filho, Constantino beijou-os e saiu. Quando entrou na tasca do Ismael, em plena Rua dos Correeiros, eufórico, gritou uma rodada para todos; hoje pago eu! Fui há vinte e sete anos quando nasceu o João. Eu sei que tu sabes mas nunca me canso de te dizer que te amo, meu filho. O tempo passa e uma pessoa nem dá por isso quando no aconchego da sua intimidade se vira para ela, com a mesma verdade, com o mesmo carinho e com a mesma vontade e lhe diz eu amo-te meu amor!
Estou no meu canto. Nem Fernandinha, nem Francisca. Ismael não se deixa ver, estará para a cozinha. Constantino, também não aparece... Com a tasca cheia parece-me vazia sem os ver. Olho a parede à força de não os ter para os olhar e dou de caras no calendário, brejeiro, com um dia assinalado. A cor vermelha de uma Bic, circundava a traços redobrados o 2 de Fevereiro.
ResponderEliminarDia 2, dia 2... pois.
Lá está porque não estão cá... É isso... Mas ele vai aparecer. Ai vai, vai. E paga uma rodada, igual à que pagou à vinte e sete anos atrás.
E dar-lhe-ei os parabéns, pelos anos do seu rapaz.
Pode crer Rogério, vai sair rodada. Quem preferir uma ginjinha também pode ser, ou um medronho para aquecer o esófago nestes dias de fresquidão. E o meu amigo está convidado.
EliminarMuito obrigado.
Um grande abraço.
Um amor que dura à vinte e sete anos é digno de menção.
ResponderEliminarGostei do texto. : )
Catarina, o João é o meu segundo, o primeiro foi a Ana que fará este ano, 30. Veja há quanto tempo dura o amor :)
EliminarObrigado.
Que lindo, Vitor, que lindo!
ResponderEliminarLindo esse amor que vos une, linda a forma como nos contas esse dia inesquecível em que nasceu o vosso segundo filho, João Pedro, e linda essa comovente descrição da passagem do tempo, com que inicias esta bela e verídica narrativa.
Olha, estou sem palavras de tão comovida.
Mando um beijinho grande de Parabéns para o João e para os ditosos papás e mana e sobrinho.
Abraço-os a todos com muito carinho.
Estão todos de Parabéns.
Quando nos juntarmos na tasca do galego eu vou querer uma ginginha...
Tenho a certeza que quando o João ler este post vai ficar bastante feliz com o carinho com que vocês, leitoras e leitores do meu blog, dedicam ao pai dele. Aliás vocês são o móbil da minha escrita.
EliminarAgradeço os votos de parabéns e retribuo o aabraço com muito carinho também.
Se mudares de ideias e quiseres trocar a ginjinha por uma amêndoa amarga, um abafadinho ou anis escarchado, fica à vontade. O meu amigo Ismael tem uma tasca à maneira.
Beijo.
b
beijinhos.
Parabéns ao filhote (mesmo que crescidinho, continua a ser!), à mãe e ao pai babado! :)
ResponderEliminarTem dias assim, que são únicos na vida de todos nós, jamais os esquecemos... :D
Beijocas e um dia muito feliz para todos!
Obrigado Teté. São de facto dias marcantes. por muito que o tempo passe nunca se esquecem.
EliminarBeijinhos.
e o tempo passa e eles continuam a ser os nossos pequeninos. Esta foi a mais bela carta de amor que li nos últimos tempos e a foto está lindíssima.
ResponderEliminarPara o "pequenino" muitas e muitas felicidades e para ti e para a tua bela mulher que continuem a ser o que são por muitos e muitos anos e verás que com o neto e outros que virão até nos esquecemos do ranger dos joelhos e a palavra machimbombo levou-me à minha terra.
Um dia muito feliz para todos
Gostei do tempo que o tempo tem, da forma como se apresenta ora rápido ora lento, gostei de cada detalhe e da forma como o descreveste, mas sobretudo gostei da forma carinhosa com que assinalas uma data tão importante.
ResponderEliminarParabéns ao filho e aos pais!
Logo mais vou aparecer na tasca do Ismael e brindaremos com uma ginginha, mas tem que ser de Óbidos, se não houver eu levo daqui-;)
Beijos
Manu
Tudo pelo melhor
ResponderEliminarSempre
Obrigado. Um abraço.
EliminarObrigado pelas palavras papi, e obg por seres o melhor pai do mundo desde sempre, e claro a Maria a melhor mãe do mundo. Que continuemos por longos anos a celebrar este amor que existe entre nós. Beijinho
ResponderEliminarÉs lindo.
EliminarUm texto muito sentido e quando assim é, a belza do mesmo torna-se evidente. Um grande aberaço e parabéns por essa dádiva!
ResponderEliminarObrigado, Rafas.
EliminarUm grande abraço de parabéns por esses 27 anos de sorrisos!
ResponderEliminarParabéns para ti, Papá, que fizeste um lindo post... e parabéns ao teu filho.
Obrigado por mim e pelo meu filho, Manuel. Um abraço.
Eliminarpezinhos de galinha nos olhos? amigo eu tenho uma scapoeiras
ResponderEliminarkis .=)
LOL, Avigi, pois é são várias as pegadas.
EliminarÉ esse o verdadeiro amor...Aos filhos!!!
ResponderEliminarObrigado Cacarol.
EliminarParabéns ao filho, à mãe e ao pai!
ResponderEliminarFelicidades...
...e boa semana,rrss
Qu forma comovente de dar os parabéns ao seu filho... e o amor, esse é eterno, não é?
ResponderEliminarParabéns :)
O amor nos faz esquecer o tempo.
ResponderEliminarAbs
Simplesmente fantástico, lindo, lindo...
ResponderEliminarParabéns ao filho, à mãe e ao pai
Pois passa, Vítor Fernandes. E eu fiquei aqui, suspirenta pelo texto tão pleno de amor!
ResponderEliminarEsse que é incondicional, que é maior do que o mundo, esse que é inexplicável, esse que me fez lembrar o Vinicius de Morais: "filhos, melhor não tê-los, mas se não os temos, como sabê-los"?
Eu penso que os filhos, são a nossa melhor parte, a nossa redenção! rs
Deixo beijo e carinho ao João, à mãe e a ti, Vítor Fernandes!
;)