domingo, 15 de maio de 2011

26. Tempo


Olá
Olá
Estás bom?
Estou e tu?
Cá vamos.
Isso é que é preciso.
A família?
Vai bem e os teus?
Graças a Deus!
Quantos tens, dois, não é?
É e tu também?
Sim, fiquei-me por aqui.
Que idade têm?
A mais velha fez 27.
E os teus?
Ela 30 e ele 26.
Como o tempo passa.
E não havemos nós de ter cabelos brancos.
A quem o dizes.
E tens um rapaz também não é?
Tenho, é este aqui.
Está mais alto do que o pai! Adubaste-o?
Se calhar…
E o que fazes?
O mesmo… e tu?
Também.
A tua mulher é que era desportista não era?
Não. Onde é que foste buscar essa?
Já não me lembro quem é que me disse.
Não, eu é que pratico taiken-do.
Ah! Então não estive longe, afinal és tu.
Pois,
Bom, vou andando,
Eu também, já estou a ficar atrasado.
Então até á próxima.
Até. Um beijinho à tua mulher.
Outro para a tua.
Adeus.
Adeus.

Nem uma palavra sobre os tempos em que na esquina do prédio falávamos de miúdas, nem de quando jogávamos ao berlinde, ou ao pião ou ao espeta, nem de quando, de lancheira na mão, apanhávamos o autocarro para Cacilhas, o barco para o Terreiro do Paço e íamos trabalhar nos nossos treze anos de idade. Nem uma palavra de quando me tocava à campainha para irmos à doutrina. Nem nos lembrámos que ambos temos irmãos e que éramos todos amigos, se calhar todos irmãos. Não nos lembrámos de quando jogávamos à bola, das sarrafadas que dávamos um ao outro ou daqueles passes de morte para golo. Não combinámos ir almoçar juntos, tomar uma cerveja ou beber um café. Até á próxima foi o que dissemos. E fico assim a pensar em como o tempo nos vai trazendo novos desconhecidos.

Texto e foto do autor. Todos os direitos reservados.

9 comentários:

  1. Constantino, se guardar e cuidar assim tão bem
    do seu gado bovino, como escreve prosa e rimas tão bonitas, por aí deve ser uma alegria!
    Um jardim como outro não há igual...deve vir daí!

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  2. CONSTANTINO? tás por aqui? ou ainda nao tens mãos livres para escrever? pelo que soube és avô. ora lá tu !...
    parabens e junta-te aos bons que bom serás. encosta-te a mim e à fatyly e a mais uma sqe por aqui andam
    kis ao Daniel e ... ah, diz-lhe que eu gosto do nome dele tenho um sobrinho-neto.
    kis à àmae e ao pai e à avó (se a tem) e ao avô constantino aquele abraço...
    e agora vai tu recolher as vacas que já é noite ou quase
    kis .=)

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  3. Exactamente... desconhecidos!
    Que raio de vida levamos!!!

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  4. Tal e qual...e porque amigos vão e amigos vêm, sinceramente não me incomoda nada com os que se afastam ou andam à pressa e sou receptiva aos que surgem do nada por vezes bem melhores que muitos do passado e até de certos elementos da própria família. Tenho mais com que me preocupar porque sei que quando precisam aparecem e vice-versa.

    Parabéns pelo texto

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  5. Olá

    Desconhecidos, porque a amizade era superficial!!!

    Bjs.

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  6. Mona Lisa, por acaso não acho isso nem fiz essa interpretação do meu texto. O que quis dizer foi que o tempo e as circunstâncias (a distância, a vivência, os objectivos...) vão apagando as memórias mais antigas. Eu não falei em "desamizade" só falei em não nos reconhecermos - como antes - nos novos tempos :) Beijinho.

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  7. Há amizades que o tempo se encarrega de afastar e depois não há muita volta a dar, a não ser a tal conversa trivial. Felizmente, não são todas! Algumas com o tempo vão crescendo e ficarão connosco para sempre! :)

    Beijocas!

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  8. Tem toda a razão. Faz pouco tempo estive num encontro de turma de escola. De gente que não se via há 40 anos! Descobri uma coisa interessante: os que eram muito amigos não o são mais, mas fiz um monte de novos amigos que na época em que os conheci, ainda garota, nem ligava para eles. A vida vai mexendo com a gente, botando de um lado para outro e às vezes, assim como quem não quer nada, a bola aparece nos pés, o goleiro está distraído e pum!! Faz-se um gol que nem mesmo esperávamos!
    ( não liga pra metáfora de futebol, é que acabo de assistir ao meu time perder na final para o campeonato paulista, é de doer, não penso em outra coisa...)

    um abraço de além mar!!

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  9. Prosaica eu, verdade Constantino?!

    Ah...quem me dera um pouco do seu talento, a sério!

    Abraço

    Janita

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