Eles almoçavam muitas vezes juntos porque ele, o chefe, o convidava. Nunca consegui perceber muito bem porque é que ele o convidava tantas vezes mas, pelo que via e, às vezes, ouvia, fiquei com a sensação de que ele, o chefe, precisava muito dele. Mas isso é apenas uma suposição minha porque nunca soube, em concreto, se o outro, o chefe, era assim gajo que tivesse dificuldade em almoçar sozinho. De duas coisas eu tinha a certeza, porque almoçava muitas vezes no mesmo restaurante e sempre numa mesa perto da deles (cheguei até a ser convidado por ele, o chefe, para os acompanhar numa aguardente velha e numa cigarrilha, quase sempre café-creme, porque lhe conheço a caixa; delicadamente, sempre recusei). Uma, era de que me era agradável ouvi-los, quando chegavam, cumprimentarem-me pelo meu nome - vi uma vez, segredarem ao ouvido do criado qualquer coisa que pela consequência teria sido querer saber o meu nome próprio. Eu acho cordial que as pessoas sempre que o saibam se tratem pelo nome. Boa tarde senhor Constantino, dizia ele sempre que passava enquanto o outro, o chefe, chegou mesmo a endereçar-me um boa tarde amigo Constantino, como vai o senhor – a outra, era de que o chefe nunca entrava naquele restaurante sozinho e de que ele, nos dias em que o chefe lá não almoçava, também não comparecia. Na verdade só nos conhecíamos do restaurante e era como se nos conhecêssemos de toda a vida. Em boa verdade, eu é que era o frequentador assíduo que fiz daquele espaço a minha cantina diária, eles nem por isso, muitas vezes apenas duas vezes por semana e outras semanas nem tanto. Mas aquela mesa ao lado da minha, se é que posso chamar minha à mesa de um restaurante, tinha sempre um prisma triangular regular, de cor preta, deitado, debruado a dourado nas arestas e com a palavra reservado, em letras maiúsculas, também escrita a dourado. Era aliás o que menos eu apreciava naquele restaurante, de farta ementa e saborosa, onde pontificavam as pataniscas de bacalhau com arroz de feijão e onde se podia comer uma das melhores farinheiras de porco preto, levemente assada em aguardente de vinho verde, porque para mim, ouro sobre preto tem sempre um ar fúnebre. Isto apesar da já referida ementa e da excelente carta de vinhos. Nesse dia, tenho uma vaga ideia de que estávamos em Fevereiro, a uma pergunta que ele lhe fez, o outro, o chefe, respondeu-lhe, não meu caro, ainda não estás preparado para isso, ainda não és suficientemente filho da puta. Fiz algum esforço antes de vos relatar isto, mas não me consigo lembrar dos nomes deles.
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Obrigado pela visita que estou a retribuir com prazer.
ResponderEliminarEspreitei o espaço desde o seu início e passei uns momentos de leitura agradável. Quanto ao texto de hoje e indo directa ao final, direi que o perfil adequado à posição a desempenhar, tem mesmo muito que se lhe diga...
Gostei do seu texto, do seu estilo. Mas, e as vacas? Cuide bem delas,rs. Abraços!
ResponderEliminarOlá Constantino!
ResponderEliminar(também gosto de tratar as pessoas pelo nome)
Gostei de saber que esse restaurante com comensais de tanto prestígio, tem, na sua ementa, um prato tradicional português.
Adoro pataniscas de bacalhau! Por sinal, até as confecciono muito bem.
Por acaso eu também prefiro ouro sobre azul...esverdeado.
Que pena não ter ouvido a pergunta que o subordinado fez ao chefe. É que eu tenho uma forte suspeita sobre a identidade dos intervenientes.
Excelente texto.
Bjo.
Janita
Sabes o que faltou ao teu texto? A receita das pataniscas e do arroz de feijão, que me puseram água na boca... :)))
ResponderEliminarTambém não tenho dúvidas que há cargos que não se desempenham sem uma personalidade bastante "filha da puta"!
Beijocas!
Não gosto de pataniscas porque detesto bacalhau, mas o arroz de feijão até que marchava com a farinheira que gosto imenso.
ResponderEliminarO que relatas é o retrato fiel de muitos "chefes, directores etc." deste país, que sobem à custa de tanta m*** que fazem aos outros e girando apenas em torno do seu umbigo. Quase sempre querem e têm um "escravo(a) ou fiel amigo! Também lidei com um, mas consegui que mudasse a sua postura porque o entalei diversas vezes, não lhe aparei os golpes, nunca me calei e com a agravante que não fazia a ponta de um corno e tal como a tua foto... queria brilhar, com o trabalho dos outros. Tá bem tá...farinha 33 e o mal é haver quem "entre no jogo"!
Gostei imenso deste teu postal "VIVO E SEMPRE ACTUAL"
heehe
ResponderEliminarbjinhos
Paula
Oi Constatino,
ResponderEliminarestou passando por aqui pra retribuir sua visita ao meu blog e dizer que gostei muito daqui e que voltarei mais vezes.
Sua escrita é boa e seu texto interessante.
Beijos e até mais.
CONS.. O que são pataniscas? rissóis? diz-me tu qu etudo sabes!
ResponderEliminarcons amigo weu estou contigo mas tira a verificação de palavras ..claro se quiseres nao faças nada obrigado e ...obrigado !
ResponderEliminarOutro ótimo texto. Bom de se ler.
ResponderEliminarNão é à toa que estou per[seguindo] este blog...
;-)
O formalismo nem sempre nos dá o retrato das pessoas com quem convivemos... à distância!
ResponderEliminarEste texto é um magnífico apontamento da verdade da vida!
Pataniscas... nao faço idéia mas lendo os comentários vejo que é algo com bacalhau , e se for eu adoraria fazer parte dessa mesa rs
ResponderEliminaros textos portugueses me atraem exatamente pelo linguajar diferente sendo que falamos a mesma língua ( nada óbvio) rs
Se dirigir aos conhecidos ou amigos ciando os nomes é de muita gentileza, gosto Constantino.
E dos seus contos estou amando... preciso mais tempo pra nao perde-los.
abraços
gostei!
ResponderEliminarrelatos de vida.
e gosto tb que me tratem pelo nome.
beij