M. do C. morreu. Morreu há mais de 30 anos quando ainda não tinha 39 anos de idade. Um dia, em casa, sozinha, rebentou-se-lhe uma trompa. Daí até entrar em choque foi um ápice. O filho e um cunhado é que lhe valeram. Um rasto de sangue, o filhote a pensar que tinham matado a mãe, o pai a trabalhar, correu a chamar o tio. Não morreu instantaneamente. Ainda se lembrou de no carro ter os olhos meio abertos e ter visto o pilar da ponte sobre o Tejo. O cunhado encostou a porta do carro na entrada das urgências do hospital. Seria impossível não ser atendida de imediato. Mas já nada havia a fazer. O médico que a assistiu limitou-se a escrever a declaração de óbito que deixou entalada entre o colchão e a grade da maca. Seguiria para autópsia. No entanto, esqueceu-se de lhe cobrir o rosto com o tradicional lençol branco e ali ficou. Um outro médico passou e viu M. do C. por ali, abandonada. Leu o relatório. Morta! Tentou sentir-lhe o pulo, a carótida. Nada (?). Ou seria quase nada? Fria estava mas a cor não era de cadáver. Seguiu-se uma longa história de muitas semanas de coma profundo, de viagens ao outro lado do mundo, de ressuscitação, de vozes que nunca mais esqueceu. Ontem a M. do C., hoje com 72 anos, contou-me a história toda enquanto comíamos uma canja de galinha. Quente.
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Certas histórias ficam para serem contadas entre risos e sopas quentes, no alívio de que tudo já passou. Ainda bem...
ResponderEliminarArrepiei-me, mas ao mesmo tempo estas histórias prendem-me a atenção, porque ainda hoje, pode acontecer a qualquer um de nós!
ResponderEliminarAinda bem para a senhora...e abençoada canja de galinha quente e que comam muitas mais!
De arrepiar, mesmo que seja ficção. Se não for, arrepio e meio.
ResponderEliminarAbraço
Estas histórias de quase morte intrigam-me e apaixonam-me.
ResponderEliminarAs suas histórias são uma delícia. Bem escritas com um toque de ironia nos pormenores ( quem se lembraria de falar no pilar da ponte?)
ResponderEliminarO Lino, ali de cima, tem um arrepio se for ficção e arrepio e meio se não for.
Olhe, se for para contabilizar o prazer desta leitura em arrepios, eu dou-lhe uma boa mei-dúzia de arrepios bem dados.
Peço-lhe que não leve a mal. Acontece que já vinha a rir do meu blog, por causa do seu inspirado comentário.
Há muito tempo que não me divertia tanto a comentar. E que saudades... Quando, logo no princípio, li o "rebentou-se-lhe", já não me consegui segurar!
(escrita rimada, também)
Haja quem me faça rir a dizer coisas sérias...
Beijo
Janita
A M. do C. bem pode cobrir esse médico de flores todos os meses, que se não fosse ele... Bolas, é assustador!
ResponderEliminarÉ uma história trágica mas que afinal teve um final feliz. Ainda bem que a M.C. ficou por cá e viveu todos estes anos. Esta história prendeu-me a atenção logo ao início quando referes que lhe rebentou uma trompa. Pode-se morrer disso, e eu estive quase, quase. Felizmente que fui operada a tempo, mas na altura não sabiam o que eu tinha. Vi que passaste pela Mansarda. Obrigada pela visita, não conhecia o teu blogue.
ResponderEliminarHistorinha mais arrepiante, o Hitchcock tem uma muito parecida (em filme de uma série de suspense)... com a diferença que o homem está lúcido, apesar de não conseguir mover nenhuma parte do corpo, excepto um dedo mindinho que está entalado debaixo do seu corpo! Já na morgue, é salvo por uma lágrima que lhe escorre... :)
ResponderEliminarEnfim, Hitchcock puro!
Beijocas!
ps - esta história tem ar de ter um fundo verídico... ;)
Caro amigo de além mar :)
ResponderEliminarObrigada pela visita e pelo carinho.
Gostei imenso do seu blog, e nem poderia ser de outra forma, pois escreves muito bem (andei lendo esse, e outras tantos textos por aqui...)
Suas fotos também são lindas.
Parabéns, e obrigada por compartilhar tudo isso com a gente.
Abraço
Cid@
arrepiou-me!
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