Tenho sono. Tenho muito sono mas por favor não me deixes dormir. Fala comigo. Estas foram as últimas palavras que disse. O jogo de futebol até estava a correr muito bem. Pudera. Do lado de cá estava eu, com quase quarenta anos de idade, uma vida feita de correrias. As poucas pausas nem sei como as aproveitei. Entre o computador e a plateia da Gulbenkian. Nunca me sairá da cabeça aquela bailarina que pela primeira vez vi num pas-de-deux com um bielorrusso acabado de chegar do Bolshoi. Era esguia, linda e vestia um tutu cor-de-rosa. Não havia mulher mais parecida com a bailarina que todas as manhãs me acordava, quando num ápice, às sete da manhã, se levantava da sua caixa de música e me despertava com os primeiros acordes do Lago dos Cisnes. Poucas mais pausas tinha. Almoços de dez minutos, muitas vezes de pé, reuniões extenuantes, directivas difíceis de fazer cumprir, trânsito de manhã e à noite, stress. Do outro lado, um miúdo de sete anos, vivíssimo, audaz, mas ainda sem experiência na arte da finta e do golo. Uma corrida mais acelerada, um pique esgazeado. Golo! De repente aquela sensação de ficar sem braços e sem pernas, o desfalecimento, as frases supra-citadas, a abertura das portas do túnel. E a vertiginosa viagem até lá, até ao fundo, até ao lado de lá, a entrada noutra dimensão. Voltei ! (afinal esta foi mesmo a última palavra). No momento em que voltei para trás, ouvi de novo o som da minha caixa de música. Quem sabe, um dia contar-lhes-ei como é do outro lado, mas hoje não. A bailarina ainda tem um tutu cor-de-rosa.
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Essas situações de quase morte intrigam-me!
ResponderEliminarTalvez porque a ideia de morte me seja estranha...!
Afinal, ainda é preferível o tutu cor-de-rosa a saber o que tem do outro lado. Cada um vai ter o seu.
ResponderEliminarLeitura que nos faz imaginar o quão pode ser bonito esse ir e voltar.
ResponderEliminarUm poeta ,voce!
Parabéns
deixo abraço
Que belo texto !
ResponderEliminarA morte é um mistério que ninguém quer descobrir.
Gostei do seu espaço.
Virei mais vezes.
Abraço
As emoções da bola podem dar nisso - xiliques ou desmaios. Mas se voltaste depois de conhecer "o outro lado" é lixado não nos contares o que viste por lá... :))
ResponderEliminarBom fim de semana!
lindo
ResponderEliminare linda foto
Bjinhos
Paula
Olá
ResponderEliminarA "fronteira" da morte é um mistério...
Bjs.
Gostei de ler seus textos, são muito bons... virei outras vezes.
ResponderEliminarBom fim de semana.
Quando se dispuser a contar, eu gostaria muito de ouvir...
ResponderEliminarDe facto são emoções a mais. Assim, não há cristão que aguente!
Tenha um bom fim-de-semana.
Jnita
Fico-me pela meditação...
ResponderEliminaramei!
Bom fim de semana
Um beijinho
da
Assiria
Mais um belo momento de leitura e reflexão onde focas o estado, que o "mfc" diz e bem" quase morte!
ResponderEliminarJá li imenso sobre isso e até já ouvi relatos idênticos e deve ser assombroso estar prisioneiro de um corpo, onde se ouve tudo e nem uma pestana se move.
A correria de hoje é igual há de outras gerações, a minha por exemplo e como ninguém foge ao destino, já aprendi "que correr atrás de uma bola feitos loucos ou parvos" não nos leva a lado nenhum, mas também ser um pachorrento demais que graça a vida tem?
A foto é lindissima...aquela gotícula pela qual todos teremos de passar ou ser...caí ou não caí? partimos ou não partimos?
ADOREI!
quando o sono vem, nada pode nos despertar
ResponderEliminarDescansa meu amigo!
ResponderEliminarUm beijo e bom domingo!
Gosto de olhar as fotos. De ler os textos. Gostaria de me deter nas leitura, e fico de voltar e não volto.
ResponderEliminarA construção dos textos se transforma num relato, numa conversa, que prende a atenção.