Naquela tarde apeteceu-lhe sair. Costuma passar as tardes pachorrentas de verão em casa, a ver televisão ou a ler um livro com a ventoinha ligada no número três e as invernosas, quase sempre no sofá, de pantufas e de roupão, cachimbo, ele é dos que fumam em casa, um mau hábito pelo qual D. Isaura passa o tempo a criticar e a abrir janelas, com livros espalhados na mesa da sala e no chão. Não raras são as vezes que Sandrinha, uma brasileira do interior do Ceará, à procura de vida melhor cá no pedaço e entretanto contratada como criada de casa, lhe joga uns olhos fulminantes e lhe chama a atenção de que assim não pode ser, tanta desarrumação, que não pode aspirar o chão, limpar as mesas, escovar os sofás, ainda mais com os pelos dos quatro gatos e desata num pranto, em brasileiro já se vê, pedindo a todos os santos e até ao seu padrinho Padre Cícero, que ela diz de uma forma que só a custo se percebe, que o patrão volte a sair de casa, volte a beber cerveja mas que a deixe, pelo amor dos santos e de seu Padim Ciço, que a deixe trabalhar. Mas, naquele dia calmo, quando pouco faltava para o Sol começar a beijar o horizonte, decidiu sair. Antigamente, desde que se aposentou, entre outros passeios que fazia durante o dia, tinha o costume de sair pelas sete da tarde, mais ou menos quando o seu amigo Jorge chegava do trabalho para se encontrarem, sempre no café central , para uma cerveja e dois dedos de conversa. Mas há muito tempo que os encontros começaram a rarear e finalmente, já lá vão mais de três anos, deixaram de se encontrar. Conversei já com D. Isaura sobre isso, mas Eduardo, a quem ela, à parte de barafustar por causa do fumo e do cheiro do tabaco Gama (nunca mudou de marca desde que se lembra de fumar cachimbo; um dia o filho mais novo, viajante assíduo pelas europas e américas também, trouxe-lhe um pacote de um qualquer pipe tobacco americano com aroma de canela e Eduardo apenas abanou a cabeça negativamente), mas D. Isaura que lhe chama carinhosamente de o meu monge, não faz a mínima ideia porque é que o marido e Jorge se terão afastado. Naquele dia, deu-lhe uma vontade enorme de se embebedar de azul. Do resto do azul que o céu ainda continha, do azul do mar, azular-se em positivas vagas de aromas e luzes. Saiu, assobiando como se fosse um jovem adolescente a treinar uma serenata, meteu no bolso a sua pequena máquina fotográfica digital, que raramente usava e, num ápice, arribou à praia, de onde não mora longe, diga-se de passagem. Sentou-se numa rocha junto à calçada, meio virado para as pessoas que àquela hora caminhavam e corriam para manter a forma, ou simplesmente passeavam, meio virado para o mar onde as ondas ao baterem no molhe criavam uma doce neblina, proveu a caldeira do cachimbo da quantia exata de tabaco, acendeu o cachimbo, deu-lhe duas baforadas e inebriou-se com as pequenas gotas de perfume a sal. Tirou a máquina do bolso, disparou em várias direções e como uma criança pequena quis logo ver o resultado da sua obra. Alguém a quem de passagem tirou o retrato tinha as feições do Jorge e, como que por milagre, apeteceu-lhe tomar uma cerveja. Sandrinha iria gostar de saber.
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Hehehehehe!...
ResponderEliminarAmei a Sandrinha a clamar pelo Padim Ciço!
E olhe, que ela tanto clamou, que os Santos a atenderam!...rsss
Te desejo um maravilhoso feriado, amigo.
Beijokas,
Cid@
Boa noite.
ResponderEliminarÉ a primeira vez que aqui venho, gostei muito do texto e da forma como escreve, parabéns!
Grata pela visita.
Beijinho,
Ana Martins
É impressão minha ou este texto tem uns pozinhos de auto-biográfico?! :)))
ResponderEliminarMas gostei muito! Embora ficássemos sem perceber se as fotografias saíram boas... :)
Beijocas e bom feriado!
Teté, autobiográfico não pode ser porque nunca tive nenhuma empregada brasileira.
ResponderEliminarAna Martins fico feliz por ter gostado. Volte sempre que quiser pois é muito bem vinda.
ResponderEliminarCida, você já é visita da casa e eu adoro que venha sempre.
ResponderEliminarBem... afinal o Padim Ciço sempre faz milagres!!
ResponderEliminarOlá meu bom amigo hoje só passei para lhe deixar o meu beijinho de luz e muita paz, minha saúde está fraca.
ResponderEliminarTudo de bom em sua vida.
Por vezes basta um pequeno "clique" para nos tirar do marasmo...
ResponderEliminarPor vezes temos que pegar em nós próprios e sairmos, milagres que nos tiram de uma rotina um pouco doentia e nada como dar uma volta a pé e disfrutar do que ainda não é taxado:)
ResponderEliminarAdorei!
Olá, Constantino!
ResponderEliminarHá dias assim, dá-nos no bestunto, e lá vamos nós, sabe-se lá porquê...Para bem da Sandrinha, coitada,esperemos que seja mesmo o Jorge...
Gostei de ler, e do estilo de escrita.
Um abraço.
Vitor
Gostei da Sardinha! Belo conto! A foto é magnífica. Abraço
ResponderEliminarMeu querido amigo que delicia raspar o fundo do tacho do bolinho acabado de fazer, mas também que carinho desejar-me as melhoras são coisas que jamais irei esquecer.
ResponderEliminarTer amigos verdadeiros vale todo o oro do mundo e infelizmente eles se podem contar pelos dedos.
Desejo na sua vida tudo do melhor que aquele Deus que a gente nunca vê mas que sempre está por perto , paz amor e muita alegria em sua vida...