Mas que raios é que o homem estará para ali a fazer? Quando me sentei a tomar o café já ele ali estava. Tenho-o estado a observar e não me cheira a coisa boa. Ora olha para o jornal, ora olha para quem passa. E logo à porta do banco. E o desgraçado não se mexe do mesmo sítio. Se calhar sabe onde está a câmara de vigilância da porta, por isso está tão quietinho. Só pode estar a preparar algum um assalto. E o saco de papel que tem na mão? Deve ser a arma, assim ninguém desconfia. Pena que lhe não veja bem a cara para poder testemunhar. Ele não tira os óculos escuros. Como se estivesse algum sol… Daqui a pouco há-de tirá-los para enfiar a meia na cabeça. Já estou a ver o filme todo. Faltam uns quinze minutos para fechar a agência, está à espera que fique com pouca gente, depois entra feito sorrateiro de cabeça baixa, enfia a meia na cachimónia, tira arma do saco, ninguém se mexa isto é um assalto, passa o saco para o outro lado do balcão, enche rápido, só notas pequenas e nada de alarmes senão será a última coisa que fazes na vida, isto está bonito está, mas se vou chamar a polícia e se for só filme ainda levo mas é com um processo em cima.
Aquela gaja ali no café não tira os olhos de cima de mim. Mal resolvida talvez, mas uma trintona bem jeitosa. Olha aquela perna cruzada. Bela coxa. Pena que agora nem posso sair daqui, mas acho que ela está a ‘amandar-se’. Ou não. Aquele ar desconfiado. Finge que lê a revista, cor de rosa com certeza, mas não tira os olhos de cima de mim. Espera, já sei, logo aqui junto à agência bancária, já estou é a fazer um grande filme. E com a mota ali e dois capacetes, a gaja veio com alguém, o mânfio está aqui na agência e a tipa está só a ver quando o otário sai para se irem embora. E entretanto vai-me atirando uns olhos. Ai se eu pudesse sair daqui…Mas meia hora? Ela já lá está há bem meia hora. Se não bebeu a bica, já está fria. Ou será que ela pensa que eu estou aqui para fazer a agência? Já me está a ver entrar ali com uma arma na mão, ninguém se mexa, isto é um assalto. Se não fosse o dia que é hoje teria já soltado uma gargalhada. Não estou a gostar nada do olhar dela. Daqui a pouco há encrenca da grossa.
Gina, chega aqui à janela. Tenho estado aqui a topar aqueles dois. Estão ali há mais de meia hora a olharem um para o outro. Se não é engate estão a vigiar qualquer coisa. Ele na porta da agência, ela sentada no café, disfarçando com uma bica que nem lhe tocou e já está fria com certeza, uma revista que não abre, uma mota com dois capacetes. Só podem estar feitos, o que é que achas Gina? Olha para aquilo, diz-me lá o que é que pensas. Daqui a bocado está o gajo a entrar porta a dentro, ninguém se mexa isto é um assalto e a mandar o caixa encher o saco com notas pequenas. A tipa põe a mota a trabalhar, acelera junto á porta, o gajo sai lá de dentro, monta-se na garupa e piram-se a alta velocidade. Não estou a gostar nada desta coisa, Gina. Se fosse engate não era preciso meia hora, não achas? E o tipo também não engana ninguém. Ninguém se põe de óculos à porta do banco a ler o jornal durante meia hora. E a olhar para todos os lados. E a perna dela assim cruzada, Gina, aquilo é engate, a fulana zangou-se com o namorado, o otário foi-se embora, deixou capacete e tudo e ela não perde tempo. Ou engate ou assalto. O que é achas, Gina?
Texto e foto do autor. Todos os direitos reservados (esta frase é um bocado dúbia).
E a Gina responde: isso é o que dá teres visto ontem aquele filme com o Bruce Willis, com tiroteios e engates a torto e a direito! :)))
ResponderEliminarBeijoca!
Não faço ideia o que Gina responde...
ResponderEliminarmas eu
respondo que:
escrever é oferecer às palavras a estrutura necessária para que os nossos olhos quietos possam sentir um prazer inexplicável!
Parabéns*
Um beijinho
da
Assiria
A GINA responde:
ResponderEliminar-Vou ligar à TÂNIA para saber a opinião dela.
eheheheheheheheh.
Uma narrativa que nos prende do princípio ao fim...estavas à alerta tal como um suricata (onde tiraste esta foto noo ZOO?) , chamas pela Gina e fica a dúvida no ar...embora diga que, por vezes o que parece não não é!
ResponderEliminarGostei imenso!
Tanto cão a um osso, depois admiram-se dos bancos andarem pelas ruas da amargura!
ResponderEliminarFatyly a foto foi tirada no Monte Selvagem (entre Lavre e Ciborro, Alto Alentejo).
ResponderEliminarvocê está parecendo um autêntico paulista: qualquer pessoa parada olhando fixo pra algum canto já pensa que é um assalto sendo armado...Eu olhei mesmo assim há uns meses pra uns tipos que estavam parados num carro. Eles desceram armados e...me assaltaram!! É dura a vida nesta cidade :(
ResponderEliminarEpá, isto fez-me lembrar uma anedota parecida, mas mete um padre, um magala e um casaslinho novo, que viajam no mesmo comboio dos torresmos.
ResponderEliminarVou ver se me lembro do enredo e depois conto. lolol
Sei é que me levas à certa até ao fim do conto para ver como irá acabar!!
ResponderEliminarMais uma vez... sorrio!
-Ora homem, tu´já estás a fazer um filme, tens cá uma imaginação.
ResponderEliminar-Pois , pois, é assim que elas acontecem, tu desdenhas, mas vais ver se eu não tenho razão, vai haver titoteio pela certa.
_E tu achas que se fosse um assalto ele estava ali tanto tempo? Esses mânfios que fazem assaltos, aparecem num carro e fazem tudo enquanto o diabo esfrega um olho. Onde já se viu assaltar um banco com uma lambreta?
-Mas o que faz ali aquela fulana há tanto tempo?
-Deve ter marcado um encontro e o fulano não apareceu...ah, mas tive uma ideia, se calhar o encontro era com eles os dois, mas nestas coisas da net, diz-se tudo, ele se calhar disse que era alto e espadaudo e ela uma menina frágil e tímida.
_Ai gina, com essa é que me arrumaste, és capaz de ter razão, se calhar até lhe disse que vinha num topo de gama e aparece um de motoreta.
Ahahahah fico à espera do desfecho.
Abraço
Manu
Manu, pode continuar :) gostei desta continuação.
ResponderEliminarE já estava eu (tão envolvida), à espera do tiroteio...:))
ResponderEliminarHomem, já te disse que levas jeito (e como levas!)
Por aqui, já estarias milionário a escrever novelas para a TV Globo!
Te cuida!:)
Cid@
Cida, é muita bondade sua.
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