- Tu não estás a ver bem, pois não Eduardo?
- Nem sei do que é que estás a falar Constantino.
Queres explicar-te?
- Sugiro que lhe ponhas um travão.
- Ó Constantino, vamos lá a ver se nos entendemos.
De quem é que estás a falar?
- Ora, de quem é que achas que estou a falar?
Daquela ali.
- Da Geninha? Por causa da vodka? Deixa lá, já não
há nada a fazer…
- Não esteja a virar o texto, sabes bem que estou
a falar da Micá.
- Da Micá? Da Micá o quê? O que é que tem a Micá?
- Ela vai-se desbocar. Não duvides.
- Lá estás tu, Constantino. De novo com enredos e
mistérios. Gostas muito de deixar as pessoas a pensarem.
- Eduardo, pela nossa amizade. E olha que quem te
avisa teu amigo é.
- Eu sei. E também sei que homem prevenido vale
por dois.
- Também é isso, mas não só Eduardo. Bem sabes que
quem anda à chuva molha-se.
- Diz-me lá Constantino o que é que esta série de
ditados populares tem a ver comigo e com a D. Micá?
- Tem tudo Eduardo. Tu és inteligente. Aliás, um
dia destes irei aqui contar um bocado da tua história e os nossos leitores vão
saber porquê e com certeza concordar comigo que de facto és inteligente. O que
penso é que te está a fazer de cego. E olha que o pior cego é aquele que não
quer ver.
- Mas Constantino, vamos lá a ser claro! Porque
nem todos os teus leitores estão a entender e não podes ficar pelas meias
palavras. Bem sei que para bom entendedor meia palavra basta, mas…
- Então vou ser mais específico. Quiçá vá já
direito ao assunto. Mas não de uma maneira precipitada. Sem atalhos. Porque
quem se mete em atalhos, mete-se em trabalhos.
- Agradeço-te. Porque não gosto de coisas mal
esclarecidas. Não gosto de gatos escondidos com o rabo de fora.
- Então, Eduardo vou-te falar. Mas sem rodeios.
Vou ser conciso e não vou falar muito. Porque quem muito fala pouco acerta e eu
não quero ser desses.
- Sou então todo ouvidos. Mas desde já te aviso
que a palavras loucas, orelhas moucas.
- Pois então Eduardo, cá vai que já se está
fazendo tarde.
- Estava a ver que não. Mas sou paciente
Constantino e sou daqueles que acham que mais vale tarde que nunca.
- Apoio-te nessa afirmação. Saber esperar é uma
grande virtude, Eduardo.
- Então fazes o favor de desembuchar? Não gosto
que fiquemos aqui em segredinhos quando o serão está ali tão animado. A
propósito queres tomar algo?
- Eu ia num copinho de leite magro com chocolate e
tu?
- Já sabes que não dispenso um espirituoso, Constantino
e hoje o que me apetece mais é uma ginja.
- Diz que há cá uma ginjinha de Óbidos de se lhe
tirar o chapéu, Eduardo. Já fiz sinal à Rosalina.
- Ó Rosalina está vermelha que nem um tomate,
rapariga. O que foi que lhe aconteceu?
- Ó senhor Constantino, então o senhor não sabe
que água mole em pedra dura tanto dá até que fura?
- Isso eu sei, mas o que é isso a faz corar,
Rosalina?
- Ó senhor Constantino, vossemecê não sabe? É o
dr. Jorge…
- Qual Jorge, Rosalina, acho que a menina anda com
muitas confianças…
- Ai desculpe-me dr. Aragão, mas eu não o disse
por mal. Quero dizer… é o dr. Mendonça. Está muito abusador e eu não sou de
ferro, ai meu Deus que tenho tanto medo de ceder.
- Mas ó Eduardo, diz-me cá uma coisa. Não foste tu
que me disseste que o Jorge Mendonça e a Clara estavam a separar-se porque ela
o apanhou com a criada, espera lá, Adriana, não é?
- Ai nem me diga isso senhor dr. Constantino, que
se eu encontrar por aí um buraco, já me vou enfiar nele. Então esse
desavergonhado a dar-me esperanças, que tem um filho por criar e coisa e tal e
que eu faria o lugar que a menina Clara nunca soube fazer e mais isto e mais
aquilo. Ai o malandro. Pois olhe que já lhe irei pôr tudo em prantos limpos.
Ele que venha cá com avanços, ai dele.
- Pois Rosalina, deixe lá isso agora e traga-nos cá
duas ginjinhas. E olhe que queremos da melhor, daquela que a D. Ermelinda
costuma beber. E tu Eduardo, não sabias que quem não quer ser lobo não lhe
veste a pele? Olha esse sonso do Jorge…
- O que tu queres dizer, Constantino é que o
Mendonça é um lobo com pele de cordeiro. Mas quem vê caras não vê corações, não
é o que costuma dizer?
- É verdade Eduardo, mas voltando à vaca fria do
almoço, tens de lhe parar a verve.
- Claro que te estás a referir de novo à Micá, não
é?
- Pois claro, a quem é que devia de ser? E olha
que ao diabo e à mulher nunca falta o que fazer.
- O que tu queres dizer é que se ela meter a boca
no trombone vai sobrar para mim, é isso?
- E não tenhas dúvidas de que ela conhece a
história toda. Ainda te lembras como é que ela conheceu D. Bonifácio…
- Foi através do falecido pai, não foi? Que Deus
lhe tenha a alma em descanso.
- Por causa dos negócios do cacau e do leite.
Sabes as influências nos negócios externos, da diplomacia…
- E também sabes que, embora mais jovem, ela ainda
foi amiga da Antonieta?
- Também sei Constantino.
- E tens assistido à história que ela tem estado a
contar?
- Tenho sim, claro que tenho.
- Então espera pela pancada.
- Pois é verdade mas olha que até ao lavar dos
cestos é vindima.
- Não me queres dizer, Eduardo, que quem ri por
último é quem ri melhor, pois não?
- Não, não, Constantino. Com o fogo não se brinca.
- Então ficamos assim.
- Olha. Brindemos então com esta ginjinha e não se
esqueça Rosalina que esta também serve para si. Cautela e caldos de galinha
nunca fizeram mal a ninguém.
E, como nem tudo o que luz é ouro é nem todo o ouro reluz, cá para mim, Sabedoria Popular é coisa que não está ao alcance da herdeira do leite magro achocolatado. É demasiado sofisticada para isso.
ResponderEliminarAi agora é que lhe queres pôr um travão, Constantino? Seria mais fácil encontrar uma agulha num palheiro!
Agora aguenta, coração!:)
Esses galináceos davam-me cá um jeitão!...
Beijinhos, amigão!
Olha que a D. Micá, Janita, é presidente de uma Fundação e uma mulher muito prendada que ainda tem muitas surpresas para nos revelar, além da história de fantasmas que ainda anda a enrolar.
ResponderEliminarBeijocas.
Que bom texto
ResponderEliminare que viagem o leitor faz.
Adorando do tudo por aqui.
Bjkas