“Despertei com a luz do Sol que penetrava na
fresta que servia de entrada à tenda. Mal me levantei, as duas anciãs, que
permaneciam de cócoras vigiando a jovem, cobertas por pequenas marlotas, braços
carregados de mananas cujas agulhas, batendo umas nas outras, faziam um
estranho tilintar, com ar de malcomidas, saíram sem içar as cabeças. Dirigi-me
à fenda, semicerrada por dois magnetos, espreitei a machamba que a rodeava. Num
ápice, toda a tenda fora inundada pelo cheiro das madressilvas e das magnólias.
Fiquei ainda uns momentos escutando o chilrear dos maria-é-dia, antes de
reentrar. Nunca tinha visto a jovem “quase-virgem” à claridade da luz. Deitada
em marroquinas, longas madeixas de cabelo cobriam-lhe o peito. À espreita, não
maiores que marmelos, os seios que, apesar de insensíveis, ainda me seduziam”.
Foi assim que acabou o nono episódio do «Conto das ilhas de
lá». Francisca estava feliz com o escritor. Sabia que ele não iria terminar
«Sete facadas e carapaus de escabeche», o seu novo livro, sem antes lhe fazer a
vontade de publicar o capítulo nono. Por estas alturas, Francisca andava um
pouco descaída. Todos sabemos quanto mói a saúde de uma pessoa ser protagonista
de um romance sem pés nem cabeça como este que o escritor tem andado a escrever
e que, só por muita consideração a uns amigos seus, que também moram na Quinta
do Conde é que lá vai dizendo, sim senhor e tal. O que de facto, na opinião de
Francisca, safa o escritor é, não só se ter dignado em publicar os nove primeiros
episódios do «Conto das ilhas de lá», deixando para uma nova novela a sua
continuidade, mas também o ter-se munido de um narrador competente, esse sim um
cinco estrelas, que sabe contar contos e que por sinal descreve bem alguns
acepipes culinários que são de comer e chorar por mais.
Quem parece também ter ficado contente com este epílogo em
relação ao «Conto das ilhas de lá» foi o Espinheira, que desde muito cedo se
veio a revelar o fã número um de Francisca, não pelo hercúleo trabalho que ela
lhe deu ao decifrar os proto-hieróglifos
que constituem a sua escrita, à conta do qual a chegou a esconjurar, mas sim,
como é bom de ver pela beleza narrativa, pela exoticidade das situações e pela
riqueza de vocabulário em perfeito contraste com o tom simplista e por vezes
coloquial com que foi escrito «Sete facadas e carapaus de escabeche». Se o
escritor não se lhe der na cabeça matar Francisca, não de morte matada, mas sim
de morte morrida, antes do final do romance, é de crer que esta um dia venha a
acabar tão linda prosa.
Orgulhoso estava Sebastião. Ele que era sobrinho emprestado
de Francisca mas que a amava mais do que à mãe, diga-se em abono da verdade nem
mais se lembrava de Raquel ou, como queiram, Rachel, ter como mãe uma escritora
de romances a roçar o erotismo era coisa que nunca lhe tinha passado pela
cabeça, mas que lhe bateu o orgulho de ter como mãe uma pessoa que não via
apenas o que estava nos tornozelos das mulheres da Quinta do Conde, que
frequentavam a mercearia do senhor Ismael Rodrigues, mas que lhes explorava os
conhecimentos que iam para cima das ligas das meias de vidro.
Finalmente quem não tem estado a gostar nada desta conversa
toda é o escritor que parece que aqui é um verbo de encher e que amuando
entorna o caldo a modos de acabar por aqui este episódio sem mais uma única palavra.
Reservei a leitura para as férias e agora li de uma assentada desde o nº 152. Não sei porquê, mas fiquei com uma inexplicável vontade de espetar uma faca num cadáver...
ResponderEliminarEsta morta é muito rodada, toda a gente lá vai dar uma facadinha...*
Peço encarecidamente ao escritor de tão belos escritos, que não amue nem se sinta aqui um verbo de encher. Muito longe disso!
ResponderEliminarHá muitas Luas que não me emocionava tanto com um episódio em que o capítulo nono narrado por amor a Francisca, tivesse um significado tão significativo para mim.
Até a jovem quase-virgem, de longos cabelos a cobrir-lhe os (in)sensíveis seios, da vindima dessa boca que os deseja, me fez ver o quão bela pode ser uma história em que o erotismo seja o prato do dia e não as sete facadas e os carapaus de escabeche, que punham o pobre Inspector ultrapassadíssimo e cheio de cólicas.
Está de Parabéns este trio autor-narrador-escritor, se...o escritor não lhe der a súbita loucura de matar de morte morrida a heroína desta saga que tanto tem sofrido e se encntra, neste momento, tão descaída, mercê de terem dela feito gato sapato...
Que se faça justiça e Deus ilumine a mente criativa e caridosa do escritor.
Amén...
Olá amigo!
ResponderEliminarEstou de regresso e passo para lhe deixar um abraço.
Já vi que tenho muitos episódios para ler. Voltarei, por isso, depois de cumprimentar toda a vizinhança
Abraço
desde que o texto tenha conteúdo ( digo carapaus e mamas) vão os olhos até ao fim...
ResponderEliminarps: farto-me de rir enquanto deslizo a vista...
Tenho este e o capítulo anterior em atraso. Dava-me jeito uns acepipes para acompanhar a leitura. :)
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