Era uma vez… poderia muito bem ser assim que eu começasse este pequeno conto. Afinal de contas quem é que nunca contou uma história, aos filhos, aos netos ou aos sobrinhos que não tenha começado por era uma vez? Mas não, não vos vou contar assim, porque nestas histórias, rara é a vez em que o sapo não se transforma em príncipe, casa com a princesa e vivem felizes para sempre. Malogradamente hoje, a minha história não tem um final feliz.
Quem conta um conto tem de lhe acrescentar um ponto, pois não é verdade que é assim que o nosso povo diz? E eu hoje atrevo-me a dizer que este de hoje já terá muitos pontos acrescentados pois, ao contrário do que costumo relatar no que aqui vos escrevo, a estes factos não assisti. Contou-me um amigo meu, que ouviu contar à mulher dele que tem uma prima que, por sua vez, é muito amiga da protagonista, que se chama Maria Inácia. Direi eu, em tom exclamativo, que raio de nome haviam de ter dado a uma moça em pequena, que ainda por cima ainda é jovem! Maria Inácia era uma cunhada da minha avó que, se fosse viva, estaria agora com os seus cento e vinte anos. Por aí. Mas para não pensarem que exagero, a outra Maria Inácia que conheço é uma senhora, mãe de um vizinho meu que se reformou agora e que, segundo creio, já não terá sido mãe muito nova. Por isso eu digo que a moça se deveria chamar Patrícia, Vanessa ou vá lá Sandra. Mas não, ela é Maria Inácia e como Maria Inácia aqui ficará registada.
Pois esta mulher tinha e parece que ainda tem um fétiche que é comum a muitas mulheres e que eu, se me permitem fazer um juízo de valor, não vejo mal nenhum nisso. O seu marido, o Salvador (cá está um nome que voltou a estar na moda), é que não estava pelos ajustes. Cada vez que a Maria Inácia se lhe aparecia com o seu sorriso número trinta e quatro, já ele sabia que ela tinha comprado mais um par de sapatos. A sorte do orçamento familiar é que, segundo a prima da mulher do meu amigo afirma e que ainda não o apresentei mas que se chama António, a Maria Inácia não era de Gucci, Dolce & Gabbana ou Prada nem mesmo de Guardiani, Fendi ou Versace. A Maria Inácia compra qualquer sapato, seja na Loja das Meias ou no Corte Inglès, na Zara ou na Calzedonia, na Bata ou na Calcantes, seja na feira de Carcavelos e até, diz a prima da mulher do meu amigo António que já a viu comprar sapatos na rua Braamcamp a uns ciganos que só vendiam camisas Lacoste, malas Vuitton e calçado Galliano de contrafação. Sem exagero, jura o meu amigo António, creio que terá ouvido a mulher dele jurar, ou talvez não, talvez seja já da safra dele acrescentar esta jura, a Maria Inácia teria uns trezentos e catorze pares de sapatos. O Salvador é que já não aguentava mais. Nem espaço para guardar os discos do Tony Carreira e da Ana Malhoa lhe sobrava lá em casa. O pior foi no dia em que procurava no closet do quarto de dormir, o cachecol e a camisola às riscas do Sporting para ir a Alvalade ver um desafio. Passou-se dos carretos. Então não é que lhe caíram em cima duas caixas com botas de inverno que lhe causaram um traumatismo craniano sem fratura e um golpe profundo num sobrolho onde teve de levar seis pontos que lhe impediam até de engelhar a testa. Quando regressou do Hospital, sem sequer saber o resultado do jogo, reuniu a sapatada e foi encher os dois contentores do lixo que havia lá na Praceta. Consta que a Maria Inácia não teve outro remédio senão dar-lhe com os pés.
Vim a correr para ver os patos e o belo cisne. Agora vou ler o texto.
ResponderEliminarE lá vai um casamento ao ar por causa de trezentos e catorze pares de sapatos!
ResponderEliminarTenho uma amiga, cuja fétiche é colecionar aparelhos de jantar para 12 pessoas. Já tem 14. Se isto não é ser uma compradora compulsiva.... : )
Excelente...sapatos e malas é com as mulheres...contra mim falo :)
ResponderEliminarSofremos de prodigalidade nada a fazer...
T'Abraço consolada p'la visita a tua casa
Bom Fim de semana
Pois eu acho que esta é mais uma história para patos!!
ResponderEliminarEstava a ver que chegava ao fim da história...sem história.
Sapatos e botas também são a minha perdição, mas não tenho essa catrefada.
Às tantas aquela remessa de botas que estava lá ao pé do contentor da Praceta onde mora o meu filho eram da Maria Inácia. A sério!
Olhe, vim carregada com quatro caixas enormes com botas, cada par de sua cor, e afinal como a senhora que as lá depositou entorta o pé direito para fora, vou ver a quem as hei-de ofertar.
Ele há coisas...
Neste conto tão bem contado aquilo que mais me encheu as medidas foi saber que o ex-marido da Maria Inácia ficou sem poder engelhar a testa.
Beijinhos e bom fim de semana.
Já uma pobre mulher, que teve o azar de ser baptizada Maria Inácia, não se pode aliviar do trauma dando largas ao seu fetiche, que o chato do marido não venha protestar e, pior, pegar na sapataria e deitá-la para o lixo? Fez muito bem em dar-lhe com os pés! Devia ter aproveitado também para lhe calçar uns patins... :)))
ResponderEliminarBeijocas!
Vitor
ResponderEliminarkkkk nao posso mais vir ler seu conto à noite me desperta o sono, de tanta risadas... deusdoceu uma história emoldurada com patos e com aviso na entrada- nada de patos...rs,
mas pensando bem há a pata"cada da Inácia em despertar a fúria do marido com seu fetiche , diga-se de passagem o sonho de consumo da mulherada rsrs
como dizem por aqui as brasileiras eu amei Vitor
e
haja sa"pata"da!viu?descobri onde escondeu os patinhos rs
abraços da madrugada
Ah pois, com os pés e descalços. ahahah
ResponderEliminarTu bem tinhas avisado que acabava mal... mas tanto nem imaginava!!
ResponderEliminarNão imaginas o que já chorei!!
Um grande abraço, Vítor.
Pobre homem... nem o nome o salvou da fúria dos sapatos :)
ResponderEliminarDestino feliz para um (sportinguista) sofredor.
ResponderEliminarNão, não é comentário. É um titulo alternativo, já que o Salvador era pato... manso. (Ou ganso?)
Detesto comprar sapatos e roupa e não consigo entender essa paranóia que me fez rir à gargalhada. Mas o Salvador... amor com amor se paga.
ResponderEliminarObrigado por este momento hilariante que mal vejo as teclas:):)
Um abração rapaz
Ai amigo, você precisava estar aqui pra me ver rir ao bom rir!
ResponderEliminar:))))
Eita homem que escreve bem, meu Deus!
Em qual livraria mesmo, eu encontro seus livros pra comprar?
Ah!...E por aqui no Brasil, também se encontra?
:)
Obrigada pelos momentos de descontração.
Quando eu crescer, quero saber escrever "que nem" você.
Fique com Deus.
Jinhos meus,
Cid@
@Cida,
ResponderEliminarOi amiga,
em nenhum lugar você vai encontrar meus livros a não ser estes textos na net, já que nunca publiquei nenhum. Mas fico muito feliz e até babado com suas palavras amigas. Um beijinho e boa semana para você e sua família.
AI homê do diabo, tu fazes-me rir , e digo-te eu que nao sou mentirosa só altero a verdade e distorço eu tb compro nos ciganos, na loja dos chineses e onde houver, nao sou esquisita
ResponderEliminarkis :=)
Hahaha! É de fazer inveja à Imelda Marcos!
ResponderEliminarAntes da desgraça que o impediu de ver o jogo do Sporting, ele devia ter oferecido à mulher um par de botas ( com patins incluídos). Homem prevenido vale por dois...
ResponderEliminarrrrsss rrss que todos os dramas fossem assim...
ResponderEliminarUm bom dia , aqui com chuva...que , espero, o poupe
Maria Inácia estava coberta de razão. Sapatos são sagrados. Eu nunca mexi nos cachimbos do meu marido (na época em que ele os tinha) mas também ele nunca mexeu nos meus sapatos...(e eu, como Maria Inácia, compro-os em qualquer lugar, de preferência baratinhos. De plástico ou de lona. Só para ver. No dia a dia só uso tênis).
ResponderEliminarMais um conto com final inesperado. Muito bom.
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