O Manel Francisco andava mostrando, pelas mesas dos mais conhecidos, a saia com forro de cetim e sobressaia em renda tipo cortinado, com rosas brancas aplicadas, de certeza made in China e ainda um par de sabrinas brancas com apliques verde alface com solas brancas e salto verde da mesma cor dos apliques, que lhe tinham saído nas rifas da quermesse. Mais tarde vi o Zé da Isaura do Cabeço, já cambaleando dos púcaros de tinto que tinha bebido ao balcão, exibir uma caneca de loiça das Caldas com brinde e tudo, quer dizer, completa com o respetivo pai da humanidade a florescer do seu interior e uma moldura em madeira de pinho, com um recorte de revista, a servir de modelo, de uma fotografia anos 60 de Brigitte Bardot. As quermesses na minha terra servem para angariar fundos para a Comissão de Festas, porque o aluguer dos conjuntos de baile não é barato. Os prémios que saem nas rifas são iguais em todas as quermesses de todas as festas de todas as aldeias, mais pénis, menos pénis.
O pai de Fábio Lagarto leiloava, numa pausa da música, uma garrafa de whisky e um bolo. Pelo aspeto, dizia ele, aquilo valia muito mais de vinte euros. O lote foi arrematado por dezasseis a um emigrante em França depois de um gajo do Benfica ter chegado até aos quinze. E não há aí ninguém do Sporting para dar mais? perguntava o pai do Fábio que se confessou benfiquista, pois embora Lagarto ele era um lagarto vermelho e ele há lagartos de muitas cores, palavras do pai do Fábio. Este, o filho, continuava com o órgão e o sintetizador a dar-nos kizomba, a mamar nas tetas da cabritinha e a perguntar quem é que era o pai da criança. Um par, de certeza que não ensaiado nos Alunos de Apolo, mas talvez em casa em frente ao espelho, não deixava os seus créditos por mãos alheias, quero dizer pernas alheias e dava um show de rock ‘n roll ao som dos acordes de uma salsa. Os outros dançaram, alguns muito bem, boleros, valsas e até o cheira bem, cheira a Lisboa, durante a noite inteira.
No bar, alguém perguntou ao Joaquim Branco se ainda havia bifanas. Que pena, tinham acabado, hoje as bifanas saíram muito bem, mas olhe que ainda temos couratos e entremeadas. A freguesa torceu o nariz, era algo que não lhe estava a agradar. E sandes? Têm sandes? Sim, amiga (com sotaque), temos sim senhora, respondeu o Joaquim Branco. Temos sandes de couratos e de entremeada, disse sem hesitar o Quim, um empregado ao vosso dispor.
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Pelo visto, nem do Porto F.C., também, hein, Constantino?
ResponderEliminarEnquanto eu lia a sua descrição da quermesse, eu ria, porque elas são iguais em todo o canto do mundo, no Brasil, não é nada diferente...
;)
: )
ResponderEliminarJá voltou de férias. Que tal?
O Quim é um empregado de pensamento rápido1
Sou vegan e dispenso essa coisa dos couratos e da entremeada. :P
ResponderEliminarAs férias foram boas???? ;)
Canto da Boca: acho que também estava alguém do FCP mas não licitaram no leilão. :)
ResponderEliminarCatarina: Voltei e aproveitei para escrever umas coisinhas.
LOL . Eu só não gosto de iscas. As férias forem bem fixes.
Não é bem a mesma coisa... lolol
ResponderEliminarCoiratos é porreiro. Coiros é que é perigoso... transmitem doenças e o camandro. lolol
Olá
ResponderEliminarConseguiste que visualizasse a quermesse, com a tua escrita fluente .
Bjs.
Hehehehehe!...
ResponderEliminarJá andava com muitas saudades de você e das suas histórias, amigo! :)
Como disse pelo "canto da boca", nossa amiga lá de cima, por aí e por aqui, as quermesses são bem parecidas (aliás, se calhar, foi daí mesmo que veio essa cultura pra gente, ora pois!)
Menino, não conta pra ninguém, mas vendo aquele cálice lá na imagem, me bateu uma vontade de beber um "Muralhas" de Monção!
Ainda bem que da para encontrá-lo por aqui, e sendo assim, hoje a noite vou fazer um brinde à sua volta ;-)
Beijinhos,
Cid@
Quermesse é sempre assim... e muito levada a sério por quem a organiza!
ResponderEliminarRegressado de umas pequenas férias aqui fica um abração amigo.
Não conheço as festas "da minha terra", pois como alfacinha raramente estou no local onde acontecem - em abono da verdade, fujo delas a sete pés, pois a música é atroz! Pior, ouve-se a kms de distância...
ResponderEliminarNum Verão da minha adolescência fui a um baile na terra de uma amiga e diverti-me bastante. Mas não tinha quermesse e a música era dos Moody Blues e outros que estavam na berra. Cantada por um conjunto local, mas não se pode ter tudo... :)))
Mas suponho que o relato é bastante fidedigno!
Beijocas e bom regresso a casa! :D
Mais uma história maravilhosa. Texto bem "cinematográfico". Humor q.b. Fiquei de sorriso aberto. :)
ResponderEliminarFartei-me de rir, é tudo igual e nem courato, nem entremeada, nem essas festarolas com quermesses. Quando as filhas eram pequenas fui uma ou duas vezes e tudo para comer apenas algodão doce e elas darem uma voltinha no carrossel quando havia "pastel"
ResponderEliminarna carteira:)
Voltaste em grande e pelo que li as férias foram boas e isso é que importa.
Um abração
e não é preciso ambiente Vip, o pessoal goza bem com o que tem; pena que a tal não comesse os coiratos, que até são petisco bom...
ResponderEliminarUm perigo esses coiratos, sobretudo para quem tem próteses, já que se arrisca a trincar e aí vai coirato e dentadura:)))
ResponderEliminarJá das canecas das Caldas com interior sugestivo devem servir para pelo menos para alimentar o imaginário daqueles que só o vêem só em louça.
Adorei o cenário e revi-me criança nessas fabulosas festas de aldeia, só faltou mesmo a célebre pergunta:-A menina dança?
Regresso em grande, espero que as férias tenham sido retemperadoras.
Abraço
Manu
Ó sonhador utópico e gordo prazer em conhecer-te.
ResponderEliminar=)
“Hipóteses”
Hipótese dum mundo melhor
Hipótese dum mundo animal
Hipótese dum mundo pior
Hipótese dum mundo banal
Hipótese dum mundo menor
Hipótese dum mundo imoral
Hipótese dum mundo maior
Hipótese dum mundo amoral
A hipótese escolhida afinal
Parece pouco ou nada importar
Tal como se encontra imundo
O mundo será em breve virtual
Não há hipóteses a considerar
Está sem hipótese este mundo.