As raízes que ele tinha com a terra foram criadas no mês de Agosto. Os pais, ainda novos, emigraram para a Alemanha fugindo à fome e à miséria que grassava pelos confins do Alentejo nos tempos em que Salazar apregoava a paz e a prosperidade do seu país. E foi na Alemanha que nasceu e cresceu. Quando fez dez anos de idade, já com o antigo regime deposto, veio pela primeira vez a Portugal. Estavamos no mês de Agosto.
A dificuldade na aprendizagem da língua e não qualquer outro sentimento de preservação cultural da identidade, coitados nem sabiam o que isso era, fez com que em casa só se falasse português. É assim que Mikael Romão, nascido e criado em Dortmund, mas de cor tigenada e olhos castanhos, aparece na aldeia a falar um português, não perfeito como não poderia deixar de ser, mas com o sotaque das suas gentes, com o carregado do Baixo Alentejo, com algumas das expressões idiomáticas e tudo isso apurado por cada mês de Agosto que aqui passava, na modesta casa de telha lusa e tetos de caniço da sua avó paterna. E se não fosse por outra coisa, as moças de ar trigueiro e face rosada, que ”ballhavam” ao som da concertina, em frente à Casa do Povo, todos os anos pela festa da aldeia, obrigavam-no a contar os meses e os dias para cada regresso às berças.
Carlota tinha crescido, desde a primeira vez que o seu coração tinha palpitado por ela. Ele não se lembra se foi aos treze ou se foi aos catorze anos que reparou nela pela primeira vez. Carlota vivia na aldeia, era filha de pais remediados que tinham qualquer coisa de seu, umas rendas de umas casitas que os avós lhe deixaram. De uma máquina ceifeira debulhadora, que comprara com a ajuda dos pais e de um fundo agrícola, e que ela manobrava tão bem como qualquer homem, fez o seu ganha pão diário, trabalhando sol a sol para os fazendeiros. Isso tudo junto permitiu a Carlota, agora na casa dos vinte e um anos, nunca sair da aldeia. E como Carlota bailava bem! Um dia, mais afoito, com o seu grande amigo Zé Simão, enquanto no palco os Tubarões do Ritmo ensaiavam uma moda brejeira de Artur Gonçalves e Carlota dançava com Januária, aproximaram-se das duas e, com olhar matreiro, ele perguntou-lhes, as meninas apartam? Estavamos em pleno mês de Agosto.
PS. De hoje em diante, o autor assina os textos e as fotos com o seu próprio nome. Quem se acostumou a chamar-me Constantino (e os mais antigos Pre) pode continuar, obviamente, a fazê-lo.
PS. De hoje em diante, o autor assina os textos e as fotos com o seu próprio nome. Quem se acostumou a chamar-me Constantino (e os mais antigos Pre) pode continuar, obviamente, a fazê-lo.
Vitor? Boa história! Seu nome é lindo mas, para guardador de vacas sou mais Constantino, foi realmente muito bem escolhido.
ResponderEliminarPrazer, Vítor Fernandes em ler-te e agora sabendo-te!
ResponderEliminarAgosto no Brasil tem uma conotação um tanto macabra, não sei se sabes? Dizem por aqui que é o mês do "cachorro louco", "da lua cheia", "das marés furiosa", e fazem o trocadilho de que "agosto é o mês do desgosto", em função de algumas "tragédias", entre elas, o "suicídio" de Getúlio Vargas....
Abraço!
;)
Vitor Fernandes, a.k.a., Constantino, Guardador de Vacas,
ResponderEliminarE elas? Apartaram-se? : )
Soberba e és de facto um grande narrador de histórias que me prendem do principio ao fim.
ResponderEliminarUm beijo sincero ConstantinoPreVitorFernandes:)
...convicta que as meninas apartaram e rodopiaram com os meninos até ao beijar do sol.
ResponderEliminarSorrio-lhe...
e
Deixo-lhe beijos
da
Assiria
Que bacana!!!
ResponderEliminarE adorei a imagem,
bjkas
Viva Vítor...
ResponderEliminarAhhh... e é tão bom "apartá-las"!!!
isso de pseudônimo é interessante, né? Já usei um na vida. Numa época em que, aqui no Brasil, as coisas iam muito mal e militávamos desesperadamente como podíamos pra acabar com a ditadura. Optei por usar um pseudônimo judeu, embora eu não o seja. Você devia contar um dia porque usou PRE, depois Constantino e agora seu próprio nome. Deve ser uma história e tanto!!
ResponderEliminarabração
Que interessante! Eu não gosto do mês de agosto por causa dos ventos ... é mês de muitos ventos aqui onde moro.
ResponderEliminarBonito nome, Vitor! O que mais me intriga nisso tudo é você se diz guardador de vas e tem no su perfil a foto de um pato. Como sou um tanto quanto tapada, não entendo isso ...
http://anabelajardim.blogspot.com/
Ele perguntou bem. Ele queria que elas se apartassem (se separassem) para poder dançar com a Carlota. Não deve dar muito jeito dançar com duas mulheres em simultâneo. lolololololol.
ResponderEliminarhttp://ocantinhodomestre.blogspot.com/2011/08/desafio-musical-n-9.html
Anabela Jardim, um ganso atento ao movimento das vacas, tomando conta delas enquanto o Constantino sonha :)
ResponderEliminarConstantino de seu verdadeiro nome Victor Fernandes (isso já sabia eu)é verdade sintonia de pensamento e de titulo
ResponderEliminarhihihi
Bem vindo, Vítor Fernandes. Vou continuar a lê-lo com o mesmo prazer com que lia o Constantino, desaparecido durante umas férias de Verão
ResponderEliminar"As meninas apartam?" Pois... elas já bailavam. Mas a expressão levou-me a lembrar uma outra, contada pela minha mãe quando me falava dos bailes do seu tempo: "A menina dança, tem par ou descansa?".
ResponderEliminarGostei...e boa foto...
ResponderEliminar**
Meu Caro Vitor Constantino, permita-me que o trate assim (Constantino rima com Aquilino, autor do guardador de vacas, e de sonhos - como deve bem saber) O seu conto trouxe-me memórias perdidas de um tio nascido e criado em Nova Iorque, trazido pelos meus avé maternos para o Alentejo profundo sem saber uma palavra de português... O que sofreu o tio meu, com os moços da aldeia a perseguirem-no constantemente só para o ouvirem falar lingua diferente... Os bailaricos? Ah, os bailaricos... as moças a balharem até se apartarem...
ResponderEliminarTexto com sabor a Agosto e ... com gosto!
Rogério, uma notinha, do Alves Redol... Grande abraço!
ResponderEliminarAtão (como diz nossa querida Avogi), muito prazer Vítor!
ResponderEliminarDevo lhe dizer, que escreves tão bem, como o nosso finado amigo Constantino.
:))))
E já que hoje é o dia dos nomes "verdadeiros", lhe deixo o meu, okey? :)
Beijinhos, e tenha um belíssimo final de semana,
Maria Aparecida
;-)
Vítor: a imagem postada no texto do Mia é da net,
ResponderEliminarUm beijooooooo
Um conto deliciosamente bem "engendrado", a fazer lembrar os tempos de bailaricos onde começavam quase todos os namoros da geração "dos nossos pais" :). Lamento o meu desconhecimento sobre a cultura alentejana não me ter permitido apanhar o sentido do trocadilho (as meninas apartam?)...
ResponderEliminarAmigo Marcolino, a expressão "as meninas apartam" que é muito usada nos bailes do Alentejo é um pedido para que se separem, sempre feito por um par de moços, cujos rapazes irão dançar com cada menina apartada (separada). Abraço.
ResponderEliminarMuito bom, as usual! Ia era embalada para ler mais sobre esses amores de Verão do Mikael e trufas, a história acaba! Ou tem continuação? :)))
ResponderEliminarQuanto ao Vitor, Prédatado, Prezinho ou Constantino... nunca me enganaste! E não é para inchares, mas pouca gente na net escreve tão bem como tu, e embora aqui e ali possam existir umas mudanças de registo, o estilo é bem reconhecível!
Beijocas para ti e para todos os teus heterónimos! :)))
Ahhh, isso também fiz muitas vezes. lol
ResponderEliminarObrigado pelo esclarecimento.
Teté, também nunca me enganaste. És uma fiel do teu amigo Pre :)
ResponderEliminarlindo
ResponderEliminarBjinhos
Paula
Eu armado em sabido, prontamente corrigido...
ResponderEliminarAlves Redol, claro.
As minhas desculpas, meu caro...