sexta-feira, 13 de maio de 2011

25. Felicidade



O seu bairro tem duas filas de prédios, uma delas mostrando as costas à outra. São os prédios de trás. Duas pequenas pracetas, uma à frente de cada fila de prédios, com lugar para estacionamento e para os carros circularem e manobrarem. À frente de uma delas há outra fila de prédios. Esta fila que dá as costas para a fila do meio tem frente para uma praceta arborizada e mais ampla. Frente a frente com esta uma nova fila de prédios dando agora costas com costas, uma quinta fila. A quarta fila e a quinta são rematadas em U por uma fila que lhe bate num topo. Ao todo, podemos contar até agora quinze prédios, acho que estão a entender como estão dispostos e quatro pracetas, sendo que uma delas, ainda não descrita, fica no interior do U. Esta é um parque infantil desativado, dizem os responsáveis, por questões de segurança. Tudo isto que vos falei fica de um lado da rua central, porque do outro lado temos também três filas de prédios, duas frente a frente debruando uma praceta com duas ruas para circulação e um parque de estacionamento de um lado e de outro de uma faixa central de frondosas árvores. A fila que dá costas com costas com a fila da frente encerra entre ambas um recinto vedado de jogos, onde alguns adultos soltam impropérios e alguns miúdos soltam alegrias, bastando para isso apenas uma bola de futebol. Na fila da frente mora um moço que foi magarefe no matadouro municipal. São vinte e seis prédios ao todo, todos eles de três andares. No seu bairro não há muito comércio. Só os prédios que formam um U têm lojas. A que já esteve muito tempo fechada por alugar, começou por ser o café do Cunha e depois uma loja de roupas. Há muito tempo que a Hermínia fechou as portas da loja de roupas e a loja continua, há esse mesmo tempo, por alugar. O lugar da tia Aurora foi passando de mão em mão. O Sr. Zé, tomou conta daquilo, dividiu a loja em duas e, se o lugar da fruta uns dias estava vazio, a taberna mesmo ao lado estava cheia. O Sr. Zé que ganhou bom dinheiro, dizem, com o lugar de frutas, teve um enfarte e deixou a loja que está fechada há muito tempo. O Sr. Rodrigues, entretanto já falecido, também já havia fechado a sua mercearia. Os grandes supermercados não perdoam e o rol, depois do fecho da Lisnave, tornou-se insustentável. O fiado agora não dá como antigamente. Mesmo assim o que foi o café da Glória (primeiramente um armazém de gasosas e laranjadas), agora é um minimercado que beneficiou do fecho do sr. Zé e do Sr. Rodrigues e também do Apaga-a-vela que era de outro bairro. O seu bairro já teve um talho, uma padaria, uma drogaria, um sapateiro e o café do Santos que ultimamente, antes de fechar era um café-restaurante. Ainda tem uma Igreja Evangélica. No seu bairro há 3 cafés, o da Rosa, o do Lourenço e o do Zé-do-pipo. No do Lourenço servem-se almoços. Ah! Que chatice! Este não é o seu bairro. Ele já lá mora lá há mais de 30 anos e a rua central que não tem saída também poderia chamar-se praceta. Mas dada a disposição dos prédios, nenhuma porta dá para ela e seria uma praceta sem números.

Hoje, foi ao café da Rosa pagar umas bejecas à velha guarda. Afinal não é todos os dias que se lhe nasce um neto.

Texto e foto do autor. Todos os direitos reservados.

6 comentários:

  1. E o neto merecia todo um passeio ao passado para ter muita história para contar ao pequeno. :)

    beijos

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  2. Não percebi quase nada da descrição do bairro e dos prédios, que são mais ou menos iguais em toda a parte, com lojas a fecharem as portas em abono das grandes superfícies. Mas percebi que um avô babado também é igual em toda a parte! Parabéns! :)

    Beijocas e felicidades!

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  3. A caracterização de bairros tão semelhantes, onde por vezes se formam famílias...onde por vezes se fecham em torno do seu umbigo...entram e saem, abrem e fecham... e em toda a sociedade bairrista
    "Mas há sempre uma candeia
    dentro da própria desgraça
    há sempre alguém que semeia
    canções no vento que passa.

    Mesmo na noite mais triste
    em tempo de servidão
    há sempre alguém que resiste
    há sempre alguém que diz não. "
    (Mnuel Alegre)

    e uma das melhores candeias que nos ilumina a alma no meio da escuridão: os netos.

    Parabéns...e ironicamente puseste a flor que mais gosto: cravo amarelo que se não te importares vou roubar e utilizar (verás como e se considerades ofensivo diz-me pf) porque não tenho conseguido encontrar:) UAUAUUUUU:)

    Para

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  4. Uma história que apesar de tudo é de vida verdadeira e sentida pelas agruras que lhe dificultam o sorriso!

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  5. Uma história bonita como a própria vida, onde se vê de tudo... de mortes a nascimentos.

    Que bom que a vida sempre se renova!

    Que bom que nascem netos para enfeitar ainda mais os nossos dias!

    Em setembro estou a ganhar mais um :)

    Beijo, e tenha uma linda semana.

    Cid@

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