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Decorria o ano de 1973 e a Câmara
Municipal de Almada organizava os 1ºs Jogos Juvenis de Almada, os primeiros e
os últimos, cuja direção fora dada, por convite da CMA ao estimado e,
infelizmente já falecido, Adelino Paiva de Moura, conhecido normalmente por
Adelino Moura, uma das grandes figuras do desporto do Concelho e, porque não,
do País. Com a revolução do 25 de abril de 1974, provavelmente pela conotação
desta iniciativa com uma CM do antigo regime ou, talvez, porque depois do 25 de
abril também se massificou o desporto escolar e popular e se criaram eventos
desportivos nas mais diversas áreas, não voltou a realizar-se a que foi, até essa
data, a maior manifestação desportiva para jovens no Concelho de Almada e uma
das maiores de Portugal.
No entanto, cada bela tem o seu senão
ou não, e para se participar nos jogos era necessário fazê-lo sob a égide de
uma organização, fosse coletividade de cultura e recreio, fosse clube
desportivo, ainda que, de caráter popular. E isso poderia de uma forma radical
desaproveitar os “talentos” que tínhamos lá no Bairro pois, ali, os únicos
clubes que existiam, ou tinham existido, eram os Unidos do Bairro e a Juventus
do Valdeão que tinham equipas só para adultos e que apenas jogavam futebol nos
torneios populares, aos fins de semana, fosse no campo do Ginásio, hoje campo
do Beira-Mar, fosse no campo do Monte ou do Costa. Mas no Bairro havia outros
talentos, havia futebol, mas também andebol, atletismo e, acreditem, até
badminton.
Seguindo o velho ditado que diz que
para grandes males, grandes remédios, não foi cedo, nem foi tarde para que no
nosso Bairro se criasse um clube. Elaboraram-se uns estatutos, fez-se uma
pequena reunião que hoje, e se calhar naquele tempo também, se chamaria
Assembleia Geral de Constituição, nomeou-se um presidente que seria eu, um
tesoureiro que teria de ser uma pessoa adulta e acima de qualquer suspeita e
foi escolhido o Senhor Duarte da drogaria, um secretário, que salvo erro foi o
Carapinha, escolheu-se a cor dos equipamentos, azul a camisola e a meia que se
foi comprar a Lisboa, à Rua do Benformoso, sem números porque não havia
dinheiro para esse luxo, as camisolas eram na realidade t-shirts
-
Não são giras, malta?
mas que nesse tempo não se designavam
assim, eram camisolas e pronto, e os calções seriam brancos, mas cada um teria
de levar os que tivessem em casa porque não havia dinheiro da quotização para
tanto.
-Qual
é? São vinte e cinco tostões, pá. Não me digas que não podes pagar a quota…
Quanto às chuteiras para o futebol
alguém se encarregou de ir pedir ao Almada e ao Piedade umas sobras e lá
apareceram umas quantas, não deu para todos, já bastante velhotas, com traves
porque pitons seria um luxo maior do que ter números na camisola. Os que não
tiveram a sorte de que algumas das chuteiras lhes servissem jogavam de ténis,
quer dizer, de sapatilhas
-
“As minhas são umas Sanjo já ranhosas. Quando se romperem jogo descalço”. Já
não me lembro quem disse a frase mas ficou-me no ouvido
porque a malta não chamava ténis.
Parece que o nome não era muito conhecido. E de ténis ou sapatilhas para os
desportos de pavilhão ou corridas equipariam os atletas dessas modalidades a
expensas próprias. A criação do clube carecia de alguma burocracia, mas isso,
que não era impeditivo para que inscrevêssemos as nossas equipas e os nossos
atletas nos Jogos Juvenis, que seria tratada mais tarde ou durante os Jogos.
Acho que isso nunca foi feito, mas o clube acabou por durar ainda uns anos, na
modalidade de futebol e jogando em torneios populares.
Com grande pena minha eu não pude
participar nos Jogos. A idade limite era de 16 anos e eu já iria completar 18
nessa altura.
-
Qual batota, qual caraças, não faço batota nenhuma. Não sou nenhum galdério. Na
minha cédula ninguém mexe. Prefiro não participar. E não participei.
No entanto, como presidente,
representei sempre o clube, participamos em atletismo com a Isabel Brito e com
o Carapinha, a um nível elevado, com boas classificações, mas sem medalhas, no
andebol onde sofremos grandes derrotas e no badminton onde um atleta nosso
ganhou uma medalha de “prata”, mas cujo nome, a esta distância temporal, já não
me consigo lembrar. Só sei que morava no Monte de Caparica e na nossa equipa de
futebol jogava a central. Mas no badminton é que ele era craque.
E
eu todo vaidoso, como presidente do clube, a acompanhar o nosso atleta, no
pavilhão da D. António da Costa a recebermos – ele a receber - a medalha de prata
E no futebol, onde passamos a
primeira fase, mas no jogo a eliminar, enfrentamos, no campo de jogos do Costa
da Caparica, a fortíssima equipa do Estrelas do Feijó, perdemos 4 a 3 e, claro,
sentimos que fomos escandalosamente roubados. O nosso treinador era o Senhor
Duarte, o da drogaria, que além de treinador e tesoureiro, era também o
massagista e que sempre que um jogador caía, corria do banco com a garrafa de
embrocação na mão, para o que desse e viesse.
Mais tarde, como disse, a equipa de
futebol do Matadourense começou a integrar malta mais velha, os mais novos
também foram crescendo, começamos a entrar nos torneios populares como antes
faziam os Unidos e a Juventus, entretanto já extintos nessa altura, e as taças ganhas
começavam a enfeitar uma prateleira da drogaria do Senhor Duarte.
E assim se fez o Matadourense, que
foi morrendo de morte natural à medida que a malta foi crescendo, casando e
saindo do Bairro para outros destinos. Acho que nunca acabamos o processo
burocrático, mas o que é que isso interessava? O importante era o convívio e a
prática salutar do desporto.
PS. Alguns Gloriosos rapazes que jogaram pelo
Matadourense: Carlos Jorge, Américo (posteriormente grande guarda-redes de
Andebol), Barbosa (chegou a ser guarda-redes do Almada) e o Carlos (que
treinava no Sporting e se não fosse a Lisnave poderia ter sido uma
estrela) - todos guarda-redes, mas o
Carlos Jorge, já falecido, também jogava a ponta esquerda - o Augusto que era o
defesa direito e dava porrada como o caraças, o Duarte Madeirense que tinha
força por dois, o Terrível que era o mais magrinho de todos, o Mesquita que
tinha uma grande habilidade para a finta, o Carapinha que era o mais veloz e
jogava a ponta direita, o Pintaroxo, que é pintor mas cuja alcunha já vem de geração
e que tem a ver com a passarada e jogou nos juniores do Piedade, o malogrado Zé
Manuel Capote, que viria a ser meu cunhado, o Jorge e o Felipe Viana que são
irmãos e além de eu próprio que jogava à frente e marcava muitos golos, outros
de que já me não lembra os nomes.
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