Apresentação
do livro “Pero que las hay, las hay e
outros sabores” pela Dra. Ângela
Mota (*), no CSPPRG em 15-11-2018
Há dias fui ao lançamento
de um livro em que um dos elementos que apresentava a obra do autor, cujo nome
é Diana, começou por dizer: “Conheço a Diana desde o tempo em que todos a tratavam
por Dianinha…”.
Eu não conheço o Vítor
desde o tempo em que todos lhe chamavam Vitinha, mas isso não retira nem um
ponto sequer do apreço e da ternura que
nutro por este homem bom, sempre pronto a contagiar-nos com o seu bom humor e a
sua humanidade.
Da leitura que fiz da sua
biografia posso dizer que nada acrescentou que eu já não soubesse – a sua
formação em engenharia, o seu trabalho como voluntário em universidades
seniores ou em instituições do género, como é o caso da Cultura Aberta, a sua
ligação às redes sociais e o seu amor à fotografia, à leitura e à escrita.
A razão peça qual estamos
aqui hoje prende-se com esse último amor – a escrita: O Vítor é autor de uma
série de livros no âmbito do romance, da poesia e … agora contos.
O livro que hoje
apresentamos chama-se “Pero que las hay,
las hay e outros sabores” – um livro de contos em que Vítor Fernandes nos
seduz com a sua escrita, envolvendo-nos e conduzindo-nos a um verdadeiro jardim
antropológico, povoado de uma multiplicidade de personagens, tocadas pela magia
da sua ficção. Magia essa que cria realidades alternativas, mas nem por isso menos
reais, e que dada a sua vivacidade e humanidade se revelam capazes de nos
desfiarem a revermo-nos nelas, levando-nos até a descobrir coisas sobre nós e
os outros que até então desconhecíamos.
O que vem referido numa das
badanas do livro dá-nos uma breve ideia da riqueza de personagens e contextos. Dentistas,
fotógrafos, professores, empregados de seguros, gente rural, bruxas, poetas,
endireitas, doentes… são-nos apresentados em situações tão diversas como
ressuscitamentos, mortes naturais, lembranças, sonhos, esquecimentos,
declarações de amor, suicídios, nostalgias e muitas muitas tentações provocadas
pelo prazer da gula. Convém dizer que a escrita de Vítor Fernandes convive com
muita informação gastronómica, de par com muitas referências culturais como modo
de caracterizar personagens e situações.
Porém a diversidade deste
livro de contos não se limita às personagens, aos contextos, aos temas. Também
a estrutura dos contos é variada. Há-os curtos, muito curtos, que parecem só um
“respirar” narrativo, isto é, o tempo da sua leitura não demora mais do que uma
inspiração e uma expiração, e são como uma interpelação ao leitor, uma partilha,
por parte do narrador, de um sentir, de uma reflexão, de uma experiência…
outros há que se explanam e nos deliciam com uma prosa eivada de poesia ou
humor, mas com a economia própria do conto, centrando-se num conflito que se
desenrola de modo contido e onde nos deparamos, de conto para conto, com uma
polifonia de narradores.
O modo directo como esses
narradores iniciam os contos cativam o leitor, estimulam-no. As primeiras
frases suscitam logo o seu interesse e por outro lado o modo como depois os
terminam, muitas vezes com o seu quê de inesperado, abrupto, misterioso até,
deixando frequentemente ao leitor várias interpretações, é motivo para que a
leitura deste livro faça voar folha atrás de folha.
Porém este livro não é só
um livro que se lê bem, que cativa e diverte… Num tempo em que se insinua um
certo desencanto em relação à condição humana é reconfortante, direi mesmo inspirador,
encontrar “olhares” como os dos narradores de Vítor Fernandes, “olhares” e “sentires”,
simultaneamente ternos e irónicos, que nos fazem reflectir e conviver com a diferença, a poesia, o
humor, a inocência, o caricato, o bizarro, a bondade, dando-nos uma perspectiva
plena de riqueza e optimismo sobre o ser humano.
(*) Ângela Mota é licenciada
em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e
antiga professora do Ensino Secundário.
Nota:
A autora do texto opta pela grafia anterior ao AO de 1990.
Agradecimentos:
Ao Centro Social Paroquial
Padre Ricardo Gameiro – CSPPRG - pela cedência das instalações.
À Vice-presidente do
CSPPRG, D. Ana Luísa Caixa, pela abertura da sessão e pelas palavras simpáticas
que dirigiu ao autor.
Ao projeto Cultura Aberta,
na pessoa da sua Diretora, Dra. Ana Teresa, à Alzira Gorgulho pela preparação
da sala e à Profª Cecília Correia, maestrina da Tuna Sol e Dó que abrilhantou a
sessão.
À Editora Emporium, em
particular à Dra. Clara Simões, que comigo colaborou na elaboração física do
livro numa constante presença e troca de informação.
À Dra. Ângela Mota pela
apresentação da obra e do autor.
A todas e todos os meus
amigos que encheram a sala na apresentação.
À minha mulher, Maria
José Capote, que fez o lanche que acompanhou o Moscatel de Honra do final da
sessão.
Ao meu amigo Paulo Trilho que fotografou a sessão e me ofereceu as fotos.
E por fim, mas não menos
importante, aos meus estimadíssimos leitores.
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