quarta-feira, 19 de outubro de 2011

69. Há mais marés ou há mais marinheiros?



Não tenho por costume dizer, quando conto histórias, que isto que vos estou a contar é verdade, ou jurar pela minha querida saudinha que ninguém é mais verdadeiro do que eu, nem tão pouco bater com a mão direita três vezes no peito, mas que ele há coisas que até parecem mentira, lá isso há. Pois bem aquilo que vos vou contar a seguir, juro pela minha saúde que é verdade e, lá virá o tempo em que a tecnologia o permitirá, por agora vocês não veem, mas eu estou a bater com a mão direita no peito. Três vezes.

Seriam umas três para quatro da tarde, não posso precisar pois a luz ambiente era fluorescente e não se descortinava a luz do dia quando, por erro meu e falta de prática, deixei cair uma chave francesa com que trabalhava, lá em cima no desaerificador da casa da máquina. Pimba, catrapimba, pimba, pum, a chave a varrer os varandins dos vários pisos e a estatelar-se num passadiço, quatro andares mais a baixo. Segui o seu percurso com os olhos, mas não fui eu que a desviei. Só pode ter sido a Providência Divina, pois que naquele dia e àquela hora, um marinheiro que passava a centímetros e eu por consequência, foi como se tivéssemos renascido. Juro pela minha saúde como isto é verdade.

À hora do jantar, eu ainda estava lívido. É verdade que das setenta e duas horas consecutivas que iria trabalhar devido a uma arreliadora avaria a bordo, já tinham decorrido umas cinquenta sem pregar olho, o que não dá boa cara a ninguém, mas aquela era tão estranha que não passou despercebida a nenhum dos meus companheiros. Contei- lhes então o episódio acima relatado não sem uma ponta de emoção. Na verdade nem eu conhecia o marinheiro, nem ele me conhecia a mim, para poder ter qualquer tipo de qui-pro-quo com o indivíduo. Foi um acidente (incidente?) mas isso poderia acontecer a qualquer um.

Quando acabei de contar aos que comigo estavam na sala, um marinheiro presente pediu autorização ao comandante para usar da palavra e retirou a queixa que tinha acabado de fazer por tentativa de homicídio. Não voltei a ver este tripulante na minha vida. Também, não tenho vontade. A história não se repete duas vezes. E nunca sabemos quais são os desígnios da dita.

27 comentários:

  1. Caramba. Agora vou eu contar um episódio também verdadeiro que se passou comigo. Toda a minha vida morei num 4º andar com uma espaçosa varanda. Tinha eu uns 14 ou 15 anos (a idade é que não posso precisar) quando deixei cair um pião no terraço do rés do chão mesmo em cima da cadeira VAZIA onde costumava sentar-se a Lúcia (uma senhora que actualmente já não se encontra no mundo dos vivos). Quis a Divina Providência que ela não estivesse sentada na cadeira nesse dia. Senão acho que teria passado a minha infância numa Casa de Correcção. Ele há coisas...

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  2. Verdade, verdadinha, esse deve ser dos maiores sustos que acontecem na vida de alguém! Vá que felizmente acabou em bem... :)

    Beijocas!

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  3. É por estas e por outras que não acredito em juras!
    Então uma chave...francesa? Eu conheço é chaves inglesas!
    E mesmo assim, por muitos pimbas e catrapimbas a cair dum 4º andar, ai não...o pião é que caiu do 4º andar.
    Confusão...afinal a chave caiu na tola no marinheiro, ou não?

    Amanhã venho cá ler isto melhor.

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  4. ahahah você é engraçada, Janita!Pelo que entendi a chave desviou de rumo inexplicavelmente. Sorte do marujo! Boa história, Vitor!

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  5. Eu tou rindo de tudo, da história e dos comentários, esses confesso, são também deliciosos de ler, são a extensão da sua prosa, Vítor Fernandes.

    Não estou vendo, mas imagino-te com a mão esquerda (ou seria direita?) sobre a bíblia e jurando falar a verdade, nada mais que a verdade, somente a verdade....

    ;)))

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  6. O Francês Chauvinista20 de outubro de 2011 às 09:49

    Se mudares a nacionalidade à chave para fazer a vontade à Janita, eu juro que nunca mais aqui venho.

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  7. Caramba! Agora, até eu me arrepiei, quanto mais vocês os dois, os intervenientes...
    :)

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  8. Gosto. Gosto de Te ler PROSISTA NOTÁVEL..! Ah..!!

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  9. Confusos???? Let's look at a trailler... http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&sugexp=kjrmc&cp=9&gs_id=12&xhr=t&q=chave+francesa&gs_sm=&gs_upl=&bav=on.2,or.r_gc.r_pw.r_cp.,cf.osb&biw=1280&bih=699&um=1&ie=UTF-8&tbm=isch&source=og&sa=N&tab=wi

    ainda ficaram mais confusos?????

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  10. Confusa...eu?

    Então, eu lá sou mulher para me deixar confundir com ferramentas?

    Constantino...let`s look at a trailler:

    "Há mais marés que marinheiros"

    -----------------------------------------------

    Minha querida Anamaria, vc não conhece o pessoal europeu...portugueses e franceses, então... - se eles não se melindrassem diria que são o piorio, assim não digo - por isso não acredite em tudo.

    Porque razão o marujo teria apresentado queixa por tentativa de homicídio, se a Divina Providência tivesse desviado o rumo da CHAVE FRANCESA / INGLESA...?

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  11. Saíste-me um vaidoso!!!
    Porque não usavas uma chave portuguesa??!!

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  12. Se a chave fosse alentejana parava a meio do caminho para fazer uma sesta e quando chegasse ao fundo da casa das maquinas já o marinheiro estava a dormir.
    Tás a ver como o que é nacional é que é bom!

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  13. Constantino...sem querer ter nenhum tipo de
    qui-pro-quo com esses seus prezados comentaristas que dão pelo nome: Francês Chauvinista e Zé Boleta, perdão, Bolota Biscoito,- que algo me diz, serem uma e a mesma pessoa- gostaria, no entanto, de chegar à fala com eles. ( amistosamente, claro)
    Como hei-de fazer?

    Osculo-o em agradecimento.
    Janita

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  14. @Janita,
    aceito prazenteiro o ósculo e correspondo de igual trejeito.
    Cumpre-me o penoso dever de a informar que por meu direto conhecimento não a poderei ajudar no pedido. No entanto penso que aqui fica o repto que os contendores poderão ou não aceitar.

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  15. é das tais coincidências que a ciência não explica. Deves ter apanhado um cagaço e peras e o filha da mãe do teu colega devia era levar com ela em cheio que atordoado nem saberia a razão!

    Mas na continuação dos comentários que me fizeram rir à gargalhada eu diria outra, excelente:

    - porque não uma chinesa? é que no "Pimba, catrapimba, pimba, pum, a chave" ia-se partindo e o caramelo que já te tinha feito a folha nem tinha dado por nada!!!

    Excelente post...e eu também tenho algumas dessas...sustos que apanhamos vindos do nada:)

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  16. Já me ri com as juras, com a chave francesa que eu nunca ouvi falar, do milagre do desvio providencial da chave na sua trajectória que poderia ser fatal, não fosse uma mão divina desviar a rota e dos comentários fantásticos que pessoas com sentido de humor aqui vão deixando.
    Só uma coisa me deixou intrigada...por que será que o dito marujo apresentou queixa? Histórias de suspense e mistério sempre me surpreenderam e esta foi uma delas.

    Manu

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  17. @Manu,
    esta história, como é que hei-de dizer, é real, pronto. Por isso, vi-me obrigado a resumir e a omitir algum contexto. Percebeu? Se calhar não, LOL.

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  18. Só pode ter sido mesmo a providência Divina!
    :)

    Mas, Vítor, jurar pela saúde???
    Eu não teria essa sua coragem!...rs

    E sabe porque é que você nunca mais voltou a ver esse tripulante na vida?
    Porque ele deve fugir de você mais que o demo da Cruz! :)))

    Beijinhos pra você, amigo.
    Tenha um feliz domingo.

    Cid@

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  19. Vitor
    Rir com certeza é o melhor remédio e aqui começando pelo texto aos comentários tudo vira piada . As reações ao seu inocente conto que nem jurando pela sua sáude é respeitado , faz de voce um adorável desacreditado.
    Ou prestas mais atenção aos detalhes ou sei não Vitor tudo vai virar conto de pescador de ribeiras ... rs
    Adorei, voce é ótimo!!
    um abraço brasileiro

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  20. Foi por uma unha negra. Mais um pouco e o marujo tinha tirado um curso acelerado de francês por correspondência ahahahah.
    Ainda há quem não acredite no destino... aquela chave não lhe estava destinada loool

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  21. Olá Constantino,
    espero que o mau tempo também o tenha feito ficar por casa comodamente instalado, no sofá, de pantufas e roupão.
    É que venho fazer-lhe um pedido e gostaria de o ver satisfeito, ainda hoje.
    Acho que a sua resposta ao meu anterior pedido intimidou o Francês e o Alentejano!

    Então vai chamar-lhes CONTENDORES...?
    Das duas uma: ou eles se ofenderam pensando estar a chamar-lhes contentores ou ficaram assustados temendo perder a contenda.

    Corrija, por favor, essa palavra porque eu deixei bem claro que o nosso bate-papo ( ando a aprender brasileiro) iria ser amistoso.
    Espero a sua melhor compreensão para este meu empenhado pedido.

    Janita

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  22. Estas coisas acontecem rs, gostei do blog
    Um abraço e obrigado por visitar o clube dos novos autores.
    Amandio Relações publicas
    http://clubnovosautores.blogspot.com/
    Boa tarde

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  23. Olá

    Verdade..verdadinha que a "história" não é a tua imaginação prodigiosa???

    Uma dúvida?
    O tripulante viu-te???
    Apresentou queixa contra quem???

    Adorei o texto!

    Bjs.

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  24. @Janita
    e porque não um duelo, com capa, espada e padrinhos? Bom neste caso seria um trielo.

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  25. e caso para se dizer, que nem tudo o que vem de cima e bom


    Bjinhos
    Paula

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  26. Gostei da foto. Espectacular.
    Acidentes são coisas normais ou anormais?
    Uma história com um final feliz. Emocionante.
    Vou seguir estes traços.

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