domingo, 16 de junho de 2013

210. Empreendedorismo




Os amigos não compreendiam bem porquê mas a esplanada que ele sempre escolhia em cada final de manhã era a de um pequeno café que ficava mesmo em frente à cabeleireira lá do bairro. Era ali que tomava a bica, umas vezes acompanhando com um pastel de nata, outras com uma queijada de laranja, que a D. Bina, a dona, gabava de ser a melhor em todos os cafés e pastelarias das redondezas.

Carolina abrira o salão já lá iam uns quinze anos. E se logo desde o princípio a clientela era maior do que a capacidade instalada, as condições atuais do país estavam a definhar o negócio. Carolina não se deixou abater e embora cada vez deixasse mais felizes as suas clientes e os seus clientes, o número dos que transpunham as portas do bem iluminado Salão Carol era agora muito reduzido. Para tentar mitigar os danos ela própria se entretinha em casa a criar penteados, desenhando em blocos de esquiço as criações mais exóticas. Comparar os penteados que Ronaldinho, o fenómeno, usou no Mundial da Coreia e Japão, que o Simão usava no Benfica ou que Ronaldo apresenta cada semana em campo com os que ela desenhava nas cabeças dos clientes era de fazer chorar qualquer garoto com a mania das imitações. Alguns deles, depois de verem os amigos a sair do salão da Carolina, chegavam a casa a chorar com vergonha de usarem cabelo à Raul Meireles. E das mulheres nem se fala. Beyoncé roeria as longas unhas até ao sabugo se visse os penteados que Carolina fazia às mulatinhas lá do bairro. Jennifer Lopez exigiria que Carolina chefiasse a equipa de cabeleireiros de qualquer produção onde entrasse e a própria Gisele Bündchen, era garantido, voltaria a ser considerada a modelo mais bonita do mundo e quiçá de novo a mais bem paga, se alguma vez tivesse frequentado o salão de Carolina.

Não admirava portanto que ele passasse o seu tempo na esplanada em frente ao salão. O negócio corria mal a todos, o dinheiro escasseava cada vez mais e ele não podia querer ser apenas o namorado da cabeleireira, era forçoso que se tornasse seu sócio. E aproveitando a sua figura masculina, como que acabada de sair de uma academia de modelação corporal, não lhe era difícil dar em cima das clientes de Carolina. Depois era só levá-las para o quarto e despenteá-las.

11 comentários:

  1. Desilusão...
    julga vir encontrar aqui
    um modelo de negócio
    que salvasse a nação.

    Acho que a concorrência é forte
    Quase todo o salão tem tal sorte

    :))

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    1. Pois ainda não sou suficientemente criativo. Mas vou propôr uma que parece que nunca ninguém propôs: exportar pasteis de nata :)

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  2. A brincar que o digas, empreendedorismo desse tipo e quejandos é o que mais deve abundar por aí. Um faz e o outro desfaz, para o primeiro voltar a refazer!:)
    Essa foto é algum penteado que a Carolina tenha praticado em casa? Estou farta de mirar e remirar essa coisa e nem pela forma, nem pelo "conteúdo" consigo identificar esse desenho.
    Gosto destes minis...mas nem mesmo aqui tu deixas de ir buscar as fulanas do jet7?
    A D. Micá já declarou a insolvência, ou quê?:)

    Não te esqueças de me explicar que desenho é esse, Constantino.

    Beijinhos!:)

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    1. É uma flor minha querida. Um jarro.
      A D. Micá está de sabática. Por agora dedicou-se à pesca. Talvez regresse depois do Verão. Está muito calor para serões à lareira.
      Beijocas.

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    2. :))

      Tens sempre resposta pronta para tudo! Eheheheh

      Tá bem, é um cruzamento de jarrão chinês com tromba de elefante! De flor não lhe encontro parecenças!:)

      Beijocas.

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  3. Um despenteia o outro penteia...
    Uma sociedade assim, é dinheiro em caixa!

    Gostei do conto, Vítor.

    Beijo :)

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    1. Os tipos eram espertos. E ela não se importava nada com os desvios do namorado. Antes pelo contrário.

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  4. Pois é, viver não custa, o que custa, é saber viver...
    Beijo.
    Ana

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  5. O tipo nunca poderia ser um Cavaco
    que desde menino ainda hoje não deixou
    de fazer buracos em terra alheia

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  6. esperto! com olho para os negócios ;)

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