O título deste texto apresenta uma expressão que se
tornou popular no mundo do futebol. O seu significado é o de que uma equipa se
coloca numa atitude tão defensiva, que os seus elementos ocupam todos os
caminhos de acesso à própria baliza. Isto nem seria assim tão errado, poderia
mesmo querer dizer que a equipa defendia muito bem se, por acaso, isso não
significasse também o abdicar quase por completo de efetuar jogadas ofensivas.
Ó
Pá, não te vais agora aqui pôr a explicar táticas de futebol. Os teus leitores
querem ler histórias e não tretas.
A nossa equipa no interturmas da Escola
Náutica não defendia bem. Também não defendia mal. A nossa Quiaios Team não
defendia nada! Ele era cada tareia que tirava a barriguinha de misérias a cada
equipa que nos defrontasse. Mas naquele dia, não! Naquele dia, tudo iria ser
diferente.
Então
vá lá, qual foi a tática?
Durante toda a semana se ouvia falar
que era desta vez que íamos levar trinta. Como se fosse um jogo de andebol.
Íamos jogar contra a melhor equipa do torneio. Já a nossa equipa de craques, a
primeira equipa da turma, aquela de que vos falei no episódio anterior, já essa
tinha sido esmagada. Agora iria ser a degola dos inocentes. Nem íamos sair do
meio-campo. E pronto, é verdade, praticamente não saímos.
Ah
não? Isso é que é tática? Agora sou mesmo todo ouvidos. Mas despacha-te que não
tenho o dia todo…
O Rui falou com a malta. Não se usava
ainda a expressão “meter um autocarro em frente da baliza”. Nem nós eramos
camioneta para tanta areia. Então o melhor era esperar, mas não tão perto assim
da área, obrigando-os, se quisessem, a rematar de longe e nós nunca
descompensarmos. Bola cortada, era pontapé para a frente. Eles que corressem, haveriam
de estoirar de cansaço. E o pessoal se perdesse por um ou dois já era como se
fosse derrota para eles. Eu ouvi, mas não calei. Logo eu que só gosto de marcar
golos. Defender para mim tem de ser de circunstância. O meu lugar é na frente a
marcar golos. Se eu levasse uma bolada de um daqueles, levezinho como era, até
dava meia volta no ar… Mas tem de ser, dizia o Rui. Se não tínhamos nenhuma
chance de lhes ganhar, então também não serviríamos de chacota.
Resultou?
Por duas vezes que não recuperei. Ou porque
me esquecia de ir mais atrás, ou porque a minha rotina não era aquela, ou
porque a minha maneira de ser era outra, que se lixasse se levássemos dez ou trinta,
era perder na mesma. E tal como os pensamentos voam também as bolas e, por duas
vezes, ela me saltou na frente, eu sozinho no meio campo adversário apesar do
mau estar e, reconheço, falta de solidariedade para com os meus colegas lá
atrás, a levarem com a artilharia “inimiga” toda em cima. E ah! Pernas para que
vos quero, bola tentadora e enquanto o “treinador” gritava, Chuta pra fora e
recua!, lá fui eu a correr direito à
baliza adversária, uma das vezes desarmado in
extremis e outra vez com um pontapé disparatado para as nuvens.
Ena,
o que vai para aí de sofrimento e frustração…
Ele há pensamentos que ultrapassam os timings da narração. Mas a verdade é que
esse foi um dos jogos mais frustrantes da minha “carreira”. Perdemos por poucos, eu só joguei meia parte,
desisti ao intervalo, não tive estofo para aquilo, o meu estômago não me
deixava, era a revolta dentro de mim. Eu já não seria útil no segundo tempo. E
foi verdade, não fui preciso para nada. Perdemos por poucos.
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