Querido Futuro,
espero que esta minha carta te vá encontrar em
perfeito estado que eu por enquanto cá vou indo, com um pouco de tosse é
verdade, mas que não faço a mínima ideia como me encontrarei no dia em que,
futuramente, receberes esta missiva.
Tenho grandes dúvidas sobre o Tempo,
principalmente sobre o Futuro. Sei que pertences a Deus, pelo que por cá é dito,
ou seja, que só a Deus tu pertences, isto a acreditar que no futuro ainda há
Deus, uma vez que por cá o tratam tão mal mesmo que lhe chamando outros nomes,
desde Jeová a Alá e, se uns passam o tempo a dizer que nunca haverá futuro
tratando de acabar o mundo em cada efeméride, outros há que, invocando Alá,
acabam com o mundo deles e com o mundo dos outros num simples troar de trotil,
mesmo o daqueles que pensavam que um dia iriam ter-te, isto é iriam ter Futuro.
Mas meu caro Futuro, se a Deus pertences que Ele
te conserve por muitos e muitos anos porque tu ainda nos vais fazer muita
faltinha. Só para te dar dois exemplos da falta que nos farás, não te esqueças
de preservar a água porque irá escassear drasticamente, no dizer dos cientistas
e trata já de contratar uns pedreiros espaciais, não esperes que sejam outros
Futuros teus descendentes a fazê-lo, porque nunca é tarde para começares a
tapar aquele buraco do ozono que nos provoca um aquecimento do catano, hoje em
dia conhecido como global. E por falar em calor, diz-me lá se por aí voltou a
moda do topless que aqui isso já foi coisa do passado e eu estou na idade de
começar a ter só recordações. Quero dizer ainda não cheguei à idade provecta
como certos amigos meus, mas acho que ao teu colo, isto é pela tua mão, meu
caríssimo Futuro, lá chegarei.
Dizem que esperar dias melhores é uma questão de
Fé. Pois é, meu caro, se calhar é, mas a Fé e o Futuro, como sabes melhor do
que eu, são irmãos. Já agora antes que me esqueça, um beijinho fervoroso para a
tua irmã Fé, que tanto me tem dado apoio em dias menos brilhantes. É que a Fé
nunca é coisa do passado mesmo que de lá provenha, é sempre do Futuro mesmo que
eufemisticamente confundida com a tua outra, a Esperança, graças a Deus também
muito boa rapariguinha, e que se sabe que será de todas a última a morrer,
provavelmente mesmo depois de ti, não leves a mal, ó Futuro, mana essa a quem
costumo dedicar uma dúzia de passas de uva sem grainhas, no virar do ano, para
outros tantos ensejos.
Sim meu caro Futuro porque dessa missão também tu
te não livras. Se ainda há poucos dias eras Presente e no virar da folha do
calendário já eras Passado, é nesta tua reencarnação como Futuro que
depositamos os nossos ensejos. Não, não te apoquentes, ensejos não é um palavrão
e muito menos lixo, é uma coisa boa, não é fazer de ti nenhum aterro sanitário
nem forno de coincineração. Os nossos ensejos, sabemos nós e tu o confirmarás
quando perderes o ceticismo, tu e os que são céticos em relação a ti, Futuro, ficarão
muito bem à tua guarda. Não é por acaso que te escrevo, já deverás ter
reparado.
Pois a partir de hoje, designo-te testamentariamente
fiel depositário dos meus ensejos. Que outra demonstração de confiança poderia
eu dar a outro alguém ou pedaço de tempo? Só tu Futuro mereces que te confie todos
os meus desideratos.
Sei que nestes dias de início de ano andas sempre
muito atarefado. Quanto mais não seja para salvaguardares as tuas queridas
manas, a Fé e a Esperança para que não continuem a ser vilipendiadas por quem
nada quer de bom para ti e para os teus, mas também a organizares espaço para
acomodares as Esperanças de alguns outros e as Fés de muitos mais. Em cima de
ti recai todo este ónus. Mas não te preocupes, sempre assim foi e sempre assim
será.
Tens, é óbvio, a tua quota parte de
responsabilidades. Tivesses em tempos, quando te conheciam por Passado e mesmo
mais recentemente quando te rebatizaram de Presente, cuidado um pouco mais
daqueles por quem deverias ter zelado e te desleixaste, quer por influência de
bacocas demagogias, quer por interesses camuflados, pouco preocupados a não ser
com o seu próprio Futuro, como se o Futuro pudesse ser uma coisa privada ou
privatizável, e outro galo cantaria, quero dizer Futuro, que teria uma vida bem
mais descansada. Mas tu deixaste que isso acontecesse, inadvertidamente é certo
em algumas ocasiões, mas absolutamente conivente em outras. Sei que de algumas
te arrependes mas o que te peço meu caro Futuro é menos arrependimento e mais
ação. O Futuro não pode ser um lamechas muro de lamentações, precisa de ser
ativo. Eu em próxima carta tentarei dar-te algumas dicas e quiçá mesmo
diretivas. Bem sei que esta frase já te está a fazer pensar que agora sou eu a
querer privatizar o Futuro e a tentar tratá-lo como meu. É capaz. Alguma parte será
assim, mas debateremos profundamente as questões e aquilo que tu Futuro achares
que não é o património comum que asseguras, aceito que te recuses a fazê-lo
para mim.
Escrever-te-ei de novo noutra ocasião. Cumprimento
às manas.
PS.
Olha, se não achares que isto é meter uma cunha, trata-me bem da saúde. Quanto
ao dinheiro, um dia explico-te o que é isso do Euromilhões. Beijinhos.
Meu caro
ResponderEliminartua carta tem endereço errado
o futuro, agora
mora
em casa do Diabo
(Já apresentei queixa à Associação dos Inquilinos Lisbonenses, espera-se a ordem de despejo)
Que chatice!! Escrevi um comentário tão lindo e animador e o filho da mãe fugiu-me. Até me apetece chorar! Ultimamente, publico-os sem necessidade de os copiar e colar!
ResponderEliminarAmanhã vou ver se arranjo coragem para reescrever, Vitor!
Agora não faço ideia do que escrevi. Vou escrevendo ao correr da pena e do pensamento... dam!!
:(( Beijinhos
o futuro receberá a carta depois do carteiro tocar 2 vezes...
ResponderEliminaraliás as cartas são escritas sempre para o futuro!!!