Pensativa, olhou pela
janela. Um pai, paciente, ensinava o filho a andar de bicicleta. Ainda com as
rodas de apoio, a bicicleta parecia querer tombar mas não tombava. O pai
vigiava-lhe as primeiras pedaladas. Um cão de pequeno porte saltava de um lado
para o outro à frente do velocípede e ladrava alegremente. Cristina sorriu.
Lembrou-se de outros tempos quando Ricardo era pequeno e Fred ainda não tinha
abandonado o lar. As primeiras gotas começaram a cair e um vento desagradável começou
a levantar-se. O pai recolheu a bicicleta e a cria, levando cada um por uma
mão. O cão saltitava agora em frente aos dois e os pensamentos saltitavam na
mente de Cristina. O vento ajudou a varrê-los. Ricardo há muito tempo que não
telefonava e de Fred não fazia a mínima ideia se ainda existia. Foram poucos
anos juntos, anos bons e anos maus, ou melhor dizendo, para ser mais preciso,
anos com dias bons e com dias maus. Tudo acabou num fim de tarde quando as
primeiras gotas começavam a cair. Fred entrou em casa com Ricardo por uma mão e
a bicicleta na outra. Olhou para Cristina e não disse nada. Era inevitável.
Saiu e foi com o vento. Sempre houve e sempre haverá até aos fins dos tempos,
pais que ensinam os filhos a andar de bicicleta. E sempre haverá chuva e sempre
haverá vento.
Já ia embora mas, ao ver-te, resolvi ficar, Constantino!
ResponderEliminarSaudades, tantas! Foi com textos parecidos com este que te conheci.
Textos curtos, directos, incisivos, que nos dão conta das realidades do quotidiano ou de ficções que bem poderiam ser realidade.
Haverá sempre chuva e vento em algum lugar, solidão, pais que ensinam os filhos a andar de bicicleta e maridos que vão comprar cigarros e nunca mais voltam...
Bem-Vindo, Constantino guardador de sonhos. Escritor que conhece a vida e a sabe colocar em belos escritos nos quais tanta gente se revê.
Beijos.
Vou tentar ser mais assíduo. Tenho andado envolvido em vários projetos literários entre os outros mil afazeres que invento, que às vezes me esqueço que tenho um blog e que gosto desta interação cibernética.
EliminarBeijocas
Inextinguíveis
ResponderEliminarAbraço
Faz tempo que não venho aqui, mas fiz mal. Como sempre, o gosto de te ler...
ResponderEliminarabraço
Ao ler o seu texto, lembrei-me do livro 'Chocolate' e das três fantásticas personagens, Vianne, Anouk e Roux. Também Vianne e Roux partiam com o vento. Pobre vento! Mero pretexto para a fuga dos laços ... ou para fugir da inexistência deles?! Acredito que quando 'se parte com o vento' é porque os laços não existiam ...
ResponderEliminarExcelente texto. : )
olha que não na lua nã chove há bué
ResponderEliminarBom dia,
ResponderEliminarVi que participa no livro "O Diabo dos Políticos", e não me ficou explícito na sua biografia se tinha ligações ao Alentejo.
Pode-me responder aqui ou em: olindg@gmail.com
Obrigada