Pareceu-me
mesmo a voz do Xico
Xico é um cão. Um pequeno chihuahua de quem a dona, uma francesa famosa desde que
foi protagonista de um romance de ficção, não descolava. Não podia o pobre
bicho ir fazer chichi ou cocó que a francesa
não fosse com ele. Até naquelas intimidades que os pequenos bichanos têm com as
minúsculas bichanas da sua raça, ela tinha de estar presente. É claro que o
Xico ia aos arames, como se diz na gíria popular, ou talvez em francês aller aux petits fils. E portanto o Xico
ladrava uma vezes e rosnava outras. E ela, a francesa, achava-lhe uma gracinha,
ao seu chien, ao Xicô, como ela tinha
a mania de pronunciar, sem saber se o Xico ladrava de contentamento ou rosnava
de aborrecimento já que a sua voz se confundia ou o bicho é que era confuso.
Estava hoje eu na fila dos correios, com o fito de
expedir mais alguns exemplares do meu último romance, quando, atrás de mim, uma
senhora francesa conversava, em francês, está claro, com o companheiro acerca
de não sei o quê, pois isso não me interessou, apenas aquela pronúncia me
parecia familiar. Tremi e um pouco timidamente voltei-me. Dou de caras com uma
senhora que em nada era parecida com a "minha" francesa. Disfarcei,
trocamos sublimados olhares, cada um retomou a sua compostura, mas da bolsa de
tiracolo, soou a voz esganiçada e ameaçadora de um chihuahua. Ou aquilo foi
mais um dos meu dejá-vu ou então era
ele. É que pareceu-me mesmo a voz do Xico.
© Vítor Fernandes
Se calhar foi mais um "déjà-entendu" :))
ResponderEliminarÉ mais isso, dado o latido, pois não vi o cachorro. Aliás vi-lhe um pouco do focinho :)
ResponderEliminarVitor
ResponderEliminareu não estava lá ( como se dizia o repórter do D. Popular), mas era o Xico, tenho a certeza...
abraço
A vozinha era igual.
EliminarAbraço!
Gostei muito do texto e da forma como está escrito: leve, natural e desempoeirada.
ResponderEliminarMera coincidência ou realidade?
Beijo, com estima e apreço.
Só pode ter sido coincidência embora os dejá-vu não sejam uma novidade em mim.
EliminarBeijo.